terça-feira, 30 de outubro de 2012

Incógnitos




Quem sou eu?

Sou o coração aberto, que descompassa
em barulhos infernais e harmoniza seu compasso
ao som de Brahms

sou aquela pessoa mesquinha que negou pão ao menino...
que não deu um sorvete ao menino do rio, simplesmente por preguiça,
preguiça de atravessar a rua e comprar outro

Me dói estar incógnita nas ruas da cidade

estar na multidão com uma perna só
quando ouço, perneta!

Só encontro meu elo em bares escuros com almas deserdadas


acho que sou marginal, ou general! dá na mesma, ambos sofrem de melancolia...


Como os violinos da cidade ou de praças públicas, que choram...


Como o moço sentado no banco da praça, com olhar baixo e a mão no queixo...


Como mendigos da rua, estamos sempre famintos, aliás, nossa fome é pior que a deles,


porque somos insaciáveis, insatisfeitos.


Eles vivem na penumbra aconchegante do desassossego, do vazio...


Pego meu osso e vou comer longe de todos...


não quero dividir, repartir ou sorrir...

The end

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Memórias afetivas




Em reminiscências, vou buscar morada em versos antigos...

visualizo amores antigos - o beijo roubado, o primeiro namorado,

lembro de Cláudio, Luiz e José


um cheiro de morte atravessa  paredes úmidas, de um passado em fumaças...


um bolor indesejável afeta   poros de minha servidão,



Tento  respirar... e passear entre imagens,


tristezas evaporam em suculentas taças de vinho


aterrizando em territórios descalços, inférteis


em clamores de apatias e desejos,

rótulos se desfazem na vadiagem

rubores emergem em conquistas novas...


Com os lábios pintados em  vermelho, ajeito minha cara amarrotada,


juntando pedaços, em restos disformes


saindo pelas ruas, sem garantias

esfrego minha libido em paredes sujas

desfaço nós cruzados

grito os gritos dos aflitos em vidas lúgubres!


ruborizo sem as vergonhas alheias


desnudo e entro num roupão caloroso

cheio de fios cortados em sedas sujas

amacio minha dor em corpos macios

em frenesis, danço a valsa dos enamorados


num salão prateado revestido de pedras reluzentes,


sou agraciada em correntes de ouro maciço

onde fico feliz e presa em sistemas antigos -

de barbaridades em Antígonas,



bato o martelo e adquiro todas as obras clássicas do


romantismo,  quadros de arte e esculturas gregas antigas,


Em despedidas, me desfaço dessas orgias antigas

volto em vida para o meu quarto escuro, em nobreza,

respingada de roucas escravidões...


 

The end

Escrever...



A sensibilidade escorre e escorrega no sebo do sebo, bebendo águas impuras das vicissitudes da vida...

O  Inconsciente se abre e irrompe, naufragando em obscuros desejos

jorram idéias e alucinações...

persisto, insisto, desisto.

Novas sensações marejadas saem em conquistas bravias

desejos de morte perfuram vidas vazias

farejando o cheiro do mundo, imundo de desejos e superstições

Não se pode cair em desfiladeiros de agonias

Reajo, vocifero e em latidos roucos tento achar o rabo escondido entre as pernas

Almas ensaboadas em perfumes vencidos sonambulizam em ruas empoeiradas

Um desconforto no peito...

Em vistas turvas, canoas furadas juntam corpos úmidos, feridos

Em delírios da noite, me travisto de ardores apimentados, atravessando bares decadentes, fora de moda

cigarros acesos invadem penumbras cinzentas, onde vultos esquálidos em cheiros solitários divagam em boemias...

Um silêncio em fumaças exalta a magia daquele momento único, da solidão, de seres empoeirados

Vingo simplesmente, sem melodias, em notas desafinadas...


The end

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Simbiose

Não sei como aconteceu...
Quando acordei estava aprisionada
amarrada na cama com o seu cachecol

Em reminiscências veio o jogo da amarelinha
o namorico no escuro
os beijos suculentos em salivas

hoje, minhas veias espumando sangue
sem memórias
vejo-me presa

como estátua caminho pra crucificação
dos libertos
dos fracos
dos oprimidos

Simbiose,
Por que me crucifica tanto?

Não consegue andar sozinha?
E eu com isso?

Caminho no desconforto, aprisionada a ti

Escondo meu rosto, minha vergonha

E em  seu colo adormeço no sono da morte...
The end

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Celulite da alma




Difícil...

contemplar rios poluídos
natureza morta...

como seres inanimados
vivemos no fictício

acumulando celulites e gorduras
em nossos destinos

somos devassados por dinossauros,  rinocerontes e monstros gigantescos

transformando rapaduras em doces
perdemos a genética
esquecemos as origens

nos calçamos de raízes apodrecidas
vingando somente o desamor...

poluimos nossos destinos
em mãos alheias...

fraturando inocências
somos a espécie desvalida
mantida em vidros embaçados
como seres embalsamados

arrotamos o azedo
e cheiramos a vinagres em conservas...

É o fim da espécie
É o início das celulites

Entre mentiras e amebas
damos um belo sorriso

Alô, alô, eu estou aqui

Tim Maia!

matem o síndico!

E vinguem!
The end

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Fêmas descalças



Correndo em calçadas disformes
Se esbarrando em transeuntes obscuros
Emudecem, com medo da escuridão...

Lembram de sonhos antigos
dos escombros do Jardim da Luz
em seus prédios escuros, sujos,
em tons de bordéis

Sentem-se violadas, violentadas
No mudismo da vadiagem,
Tentam acordar desses pesadelos

Em suas mochilas coloridas
aguardam o amanhecer
em praias...
sujas, nebulosas

andam pelo mar
em lembranças...
sonho ou pesadelo?
realidade ou imaginação?

Recorrem às cores da magia
pra esquecer o fétido do ontem

flutuam entre pedrinhas, pedregulhos
em caquinhos de vidros
raspando seus delicados  pés

nessas dores miúdas
se abstraem de dores mais profundas
e esperam o anoitecer

entre cinzas do passado
em  queimaduras antigas
brincam com as luzinhas coloridas
na  fonte dos desejos

colorindo  o amanhã
em um futuro bem próximo
catando lantejoulas de desfiles do passado

caminham solitárias, sem esperanças,
em esperanças...
 

The end

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Inexplicável


Não tem explicação.

É inexplicável, é assim

o pássaro voa

a menina caminha


Os muros continuam altos



É assim

Não
Não adianta

Tudo bem
Correto
Com certeza

Mas não dá

Claro,
Sim,
Quem sabe?

Qualquer dia

Então tá.  

desculpe.



The end





Eu queria tanto que a minha vida fosse assim...



Como um lavar de copos
a água escorrendo,
e os copos limpos, reluzentes...
 

Sem inquietação e rodeios

Na simplicidade do fluxo da água corrente

na pureza da água cristalina

lavando a louça, limpando a cozinha

E tudo ficaria limpo e arrumado

Sem dores, sem devaneios
o viver deveria ser assim,
como a água corrente,
jorrando, como um fluxo permanente

Mas me esbarro nas pulgas de minhas neuroses
que coçam até sangrar
que incomodam...

o estômago enjoa, a cabeça dói
e o pensamento não para...

O círculo da vida

O eterno retorno de Nietzsche

Não sei...

Queria sair desse redemoinho

e jorrar bem longe toda essa água,
como um esguicho limpando as poeiras dos céus...

Mas acordo
igualzinha ao ontem, hoje, amanhã

Finalizo minha existência
operando cicatrizes
entrando no redemoinho
e brincando com os bebês...

 
The end

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Fígado




Minha cabeça dói...
meu estômago vira,
não consigo quase enxergar

diz o médico,
é a alimentação

diz o alternativo,
é a raiva

e vou caminhando turvamente

me esbarrando em loucas
e em loucos caprichos

sem atender os pedidos da alma
tombeio até ficar com os pés feridos

tentando recobrar a minha lucidez.

 

The end                                     

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Bagunça




Não acho nada,
não encontro coisa alguma

Me esbarro no lixo do lixo

Divago com a janela aberta

Olho a textura do tempo seco
Olho o copo sujo de vinho
com o azedume do ontem

Só consigo atinar em marchas fúnebres

Mas alinhavo a minha trajetória
Tentando poupar-me
para esculpir novos dias que amanhecem

Sem vigor,
Sem rubores

vou costurando o dia a dia até o anoitecer...
 

The end

Ruínas




Meu corpo está em ruínas

minha alma pendurada em sabiás coloridos, desaba!

oh! frescor da noite, onde estás?

oh! poetas do amor, onde se esconderam?
 
Brincam  com meus sentimentos e se escondem atrás dos muros?
 
Vou esbravejar e contar até três...

Um... ciranda, cirandinha, vamos tomos rebolar, vamos dar a meia volta...volta e meia ...

dois... o cravo brigou com a rosa,

três... nunca aprendi a existir... só pesadelos voluptuosos...


Por que??? Porque quando vou falar de mim, sombras de outros me invadem...
 
Carniças do passado esbravejam em busca de tesouros perdidos

ouros, brilhantes e diamantes sucumbem num mar poluido, desvalido


Crueldade, roubas o que há de melhor em  mim!

Oh! Vida drogada, cambaleante,

vem ao meu encontro já cansada, esbaforida

Combinemos então, não me esperes para o jantar

hoje quero jantar com os esquecidos


brindar com os desvalidos a aflição desamor

arrotar jardins murchos, sombrios,

de cores cinzentas para o escurecido

lamúrias, gentalhas!

canalhas!

Vivem se pendurando em mim, com o intuito de me agradar,


mas te conheço muito bem!

Desventura é o seu nome e mentira o seu sobrenome

Saiam do meu caminho!

Quero triunfar o tempo perdido!

Escouraçar-me na multidão que me rodeia


e me lambuzar de alegria

velha amiga  perdida, sequestrada!

nesse sequestro relâmpago, ela se apartou de mim e

nunca mais apareceu...

"A ironia é a expressão mais perfeita do pensamento".

The end

Amnésia




Oh! deusa do labirinto? onde se escondes?

Quero você em minha vida

me ajudar a tirar roupa suja-usada do meu guarda-roupa velho

eliminar massa cefálica leguminosa, sebosa, cheia de tiques  nervosos

dançar com o inusitado às margens do rio Nilo


colocar álcool e fogo dentro de cada micro-célula

quero ares em discordância

fazer explodir o conformismo,

como a menina suja que come chocolate

É no esquecimento que vanglorio minhas incertezas


 Implodindo Narcisos e Espectros

Mergulhar em céus invisíveis,

E explodir essa indesejável mania de ser!


 

The end

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Facção criminosa




Rouba em perjúrios!

minha decência, minha demência!

e me deixa desnuda, em lamas inférteis!

bulina a minha respiração, meus devaneios,

e me deixa em prantos!


facção criminosa!

permutas mel em merdas vadias

abafa  o meu grito primata,

e me deixa à mercê de leões enferrujados,

Deixa eu deseixar, deslizar, em sabãos deslizantes

sem cheiros ,  incolor, espumantes


com o meu desamor, minha escuridão, minha agonia,

não seja cúmplice de minhas inverdades

quero mergulhar, afundar minha cabeça em vulcões explosivos!

quero amanhecer só,


desnuda

em cinzas,

pretas, ralas...

mas só!

eu com o meu eu... criminoso,

sem facção, sem emoção blindada...
 

The end

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Insinuação






 

Insinuas que sou brega, difícil...

tantos adjetivos, e daí?

amarguras adormecem em barbas grisalhas

dificuldades rolam

deixa rolar


opiniões não são garantias de vida

vaidades são fissuras da desarmonia

Em isolamentos e refúgio humano

Discordo de ti!

fecha tua boca cheia de dentes cariados!

Enfia sua língua nesse cu enrugado

E me deixa em paz



A lucidez dá enjôo e insinua vômitos.





The End.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Delírios em mingau de merda

                                          

                              
"Na alcova mórbida e morna a antemanhã de lá fora é apenas um hálito de penumbra".


Um corpo sem existência perambula em ruas sombrias da madrugada, em delírios

Na mão do invisível respinga insanidades...

Braços com mãos amputadas remexem o baú dos desafetos
Um namoro com o impuro reverbera  a delícia de mentiras verdejantes

No cultuar do fétido, do desamor, do desconhecido, geram-se paraísos artificiais bem cotados


Em vômitos amanhecidos exalam-se sentimentos de plásticos, esborrachados


Ah... verdades bravejantes... sem vergonha de existir, evacuem o ranço da mesmice, da chatice, da breguice!


Desapareça, oh, barro escuro dos afetos!

Camisolas encobertas em sangue reclamam desejos roubados

Oh, negro da noite e oh, frio da madrugada, amigos de longa data, em tempo de desamor,


vamos brindar a existência, com o copo cheio de delírios, beirando a demência,

Convidemos  os delírios para um jantar em nossa casa, e iniciemos um diálogo na sacada, reverenciando um luar perdido, imerso em escombros da noite.
Um lobisomem entra e toma conta dos desejos e anseios...

Prendamos nossas  famílias num formigueiro... Se bater a saudades, nos transformemos em formigas, entremos dentro da terra para descobrir a isca da vida!


Uma massa cinzenta cobre sentimentos

Fantasiamos aflições em delírios e naufragamos no rio negro com os pés em feridas e pernas retalhadas
Vamos nos perder no barco das ilusões

Andar no desencanto da noite e sorver o ar gelado, endurecido

Vamos brindar!

Comer um mingau de merda e adormecer nos escombros da terra com raízes apodrecidas.
The end
                                                

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Afrodites bichadas



Bonitas e famosas. Perfeitas

que caca, não?


rostos esticados, peitos siliconados!


e a cabecinha, neca!

boneca, peteca!

Como cerejas mofadas vivem na penumbra...


Máscaras coladas no vazio, no nada...


Pergunto


meninas tristes, por que vivem o avesso da essência?


Tu és um sopro ou um devaneio ?


Como podem viver sem essências, se equilibrando entre saltos e estrelas decadentes?


Vivem de uma fome de afagos da verdade


vivem da estranheza dos terrores amedontradores


e elas respondem,


somos filhas da mídia, e se a desobedecemos, vivemos à margem...


Respondo


mas diga-lhes que esse oco dói e que vocês querem o cheiro da vida!


e que é preciso amainar essa angústia com tons de claridade e benevolência!


e que não podem esculpir essas dores no vazio...


Vivem no descompasso...


Tento me aproximar de suas faces e tocar seus rostos,


e elas com os olhos empoçados de curiosidade, respondem


"Como foi que desaprendi de ser humana?"

The end

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Indenização




Soturna, sorrateira... bate à minha porta...

Ah... vem cobrar-me????


Mas antes, cobro de ti!!!


Todos os perjúrios, de tudo o que me prometeram e que me tiraram!

Quero a indenização dos meus sentidos fraturados, das minhas ideias quebradas,

das falsas ideologias, dos meus sentimentos perfurados, da minha alma maculada!!!


da minha vida roubada...


Você, cínica e indecororosa que só sabe cobrar...


Libertina, safada!


Quero a indenização de minhas dores invisíveis,


E a culpa, solidária à indenização, se reestabelece afirmando: " oh, oh, eu te indenizo das dores invisíveis, aclamadas, escondidas em subterfúgios

de desejos reprimidos; bah!

Eu quero a indenização social dos meus desejos íntimos


do meu desencanto


da minha ruína amorosa


de tudo aquilo que tive e perdi


da minha penúria íntima,


dos abraços perdidos,


dos pecados não cometidos


de memórias esvaídas...


Entre débitos e créditos,


você se safa, na saída,


creditando seus valores,


e eu, em débito, credito palavras em vão...


assistindo a hipoteca dos meus bens imorais sendo levados à morna moralidade...



The end

terça-feira, 31 de julho de 2012

Crise de identidade



Vejo um mendigo-monge, sentado na calçada, com um cobertor colorido,

com um olhar distante em um semblante sereno...

olha os transeuntes e a vida entre a apatia e a cordialidade.


João, franzino e gago joga a bola fora da trave e perde o gol


Dora, lê o Príncipe de Maquiavel e ajeita seus cachos,




Maquiamos nossos semblantes com lápis de cera, e nos transformamos em homens de plásticos


 
 
Identidade??? por onde andas, mulher?

Protagonista, em papéis secundários, sucumbe...

Maldição do livre arbítrio!!!

Dores são consumidas em anestésicos de plásticos

Passamos a borracha nas escrivaninhas do amor e esquecemos o sabor das cerejas

Abusos

Um pacto de silêncio...

Fraturamos nossas peles em prol do pós moderno

Indecorosos, na procissão do viver, resguardamos falsas imagens pelo medo da vizinhança

Arrotamos uma cultura em pruridos,


dormimos em caixas de papelão, sentindo o frio nas costas e os pés gelados.


 
The end








quarta-feira, 25 de julho de 2012

Finitude



Maldita!

Pelos deuses!!!

da vida subtraída, esvaída

Em sua surdez...


Nãooo!!! Pela não louvação à vida!



E o coro em uníssono lamenta

"Ai de nós, sem conta, são nossos sofrimentos

Despojada dos seus filhos, a natureza humana perece

Zeus! envia-nos tua proteção!

Maldita Finitude
Queremos a atemporalidade e o Renascer!! "


Minhas condolências, meu pesar por você, sua finitude!

       "Não sou nada, nunca serei nada...."

                 dá-lhe Fernando!!!


Fortuita, Maldita!

Eu não a quero mais!
Suma, desapareça!

Indesejada, mal amada,
Vives na penúria de desgostos alheios...
te odeio!

Libertina, Indecorosa,
Irresponsável, Maldita!

Apelas às incongruências sanguinárias,

Eu não a quero mais em meu jardim de rosas
coração de bronze, braços de ferro, lágrimas de aço!

Esconde-se no pseudo, no pueril escabroso
Despede-se de todos com um sorriso cínico, fetichista

Nazista!

Impõe-se sem louvor,
com horror!
aos apelos indecorosos
e indesejosos da vida!

Não me venham com conversinhas,

de aqui, agora!  Fora!!!!

Fonte amarga do desespero humano!


Não me venham com conversinhas


Eu quero o abandono no ad eternum

Envergar-me na sua luxúria e vigor,

saborear os venenos de sua eternidade!

Sem essa de saudades! Chega!!!




Aqui, Agora, Fora!!!

com suas limitações, limites em finitudes,

Quero o futuro
ainda que em pesares

não quero o passado partido, ferido, em cacos



"Tenho  frio da vida. Tudo é caves húmidas e catacumbas sem luz na minha existência.

Qualquer coisa em mim pede eternamente compaixão..

Só no ar morto dos quartos fechados respiro a normalidade da minha vida".



The end

terça-feira, 17 de julho de 2012

Madrugada



É na madrugada

que o galo desavergonhado solta seu canto

os amantes descarados soltam seus gemidos

num relaxamento sem vitórias,

numa mansidão em maldição

Há um toque de leveza e sublimação



É na madrugada


que o frescor se contata com a cordialidade


Sensações se descobrem

e vão ao encontro de abraços...



Sentimentos escondidos deslancham e marcham

do fúnebre ao sutil

saindo do cotidiano purulento,


onde são eliminados os jogos de braços de ferro

Soçobrando na mais alta sensibilidade

como uma bruma resvalada no mais puro sentimento,

Há um silenciar de ruídos...

 


The end





Coito em feridas



Sim, abre as pernas

fecha as pernas

e o animal segue sua marcha

sem interromper o coito...


sem descrição, em maldição


sem hinos femininos

escorregam  no vazio sebento

deixando em ruínas o rebento


sangrando sem parar


corre, corre Mariazinha

vem, vem cobrir seu corpo


descoberto pelo animal


em cacos, infrutífero

varando a sala, os quartos, a varanda


os corpos estendidos, amuados,


sem vida, sem combinações


sem futuras condições

lá vão eles, cacos, fragmentos,

pedaços de ilusão...

esparramados na terra.


 
The end

terça-feira, 10 de julho de 2012

Doença



Corolário de emoções débeis

Peles rasgadas em comoções desfeitas

Santos descobertos, nus, disformes

Santuários sem purpurinas

vestes cambaleando em corpos desfigurados



Ei, você aí!

não fuja do assunto!

doença é foda!


É a dependência do outro,

principalmente desses sanguinários da saúde,

que rastreiam a doença em frascos venenosos

e ignoram seu mal estar...



é ludibriar a razão,

em queixumes sem retorno


Aceitem e deixem-se morrer...

Porque a Morte é a idolatria da Vida!

 


                                                                              The end














quarta-feira, 4 de julho de 2012

Seca

 
Como a pele seca do homem do campo

como os sentimentos esgotados de amar...

das pernas esfoladas de tanto dar,

da ferida com casca que não para de sangrar

ai, chega de rimas, e vamos ao tema,

seca, do Nordeste

ah... por favor, não me venham com geografias e sociologias

eu quero a chuva que molha os sentidos...

ah.. .os sentidos! ah... os sentidos!

bah!

Cansei da sociologia, da patologia

da burocracia, do sofrimento e tormentos!

Quero banhar a minha seca em braços alheios

disseminar meu corpo em turbilhões calorosos

molhar meus sentidos em orgasmos em espasmos

garantir a minha sobrevivência sem insolvência, sem carência,

perder o juízo e esfolar a minha alma!

mergulhar de cabeça em lençóis sujos!

cuspir o escarro que me asfixia!

cansada de subidas e descidas,

sem fôlego, rogo ao meu mentor Fernando Pessoa,

e ele responde...

"Nunca penses no que vais fazer. Não o faças.
Vive a tua vida. Não sejas vivido por ela".

Desço as alamedas dos prazeres,

rolo nas escadas, em sangue vivo!

e grito no pelourinho!

Estou viva!

E da seca, se fez o sangue.

The end

Fezes

 
De odor mal cheiroso

como a vingança descabida

como o sonho desfeito

como o príncipe decapitado

Ah... não me venham com dogmas

e lição de moral!

Por favor, me deixem existir!

Sim, acredito no amor...

Esse velhaco maltrapilho, ignobil e desajeitado,

esse rampeiro que vive dando ar de grandiosidades!

Ah... Infeliz!

Sim, o amor que passa...

como fezes amanhecidas

putrefatas, cheias de vermes

como o punhal cheio de sangue,

de amantes traídos

como corpos estendidos, que escorrem sangue

Esquecidos das memórias de Iansã!

É nos tambores de Iansã,

que consigo expurgar o mau cheiro dos esgostos

enxotar o ranço de amores esmaecidos

como as misérias de um homem embalsamado pelo tédio,

Enterro sonhos inúteis em chuvas de rosas de sangue,

e faço estiar toda a dor!


The end

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Luzes apagadas




Vejo fileiras de cadeiras em cima das  mesas,

um  galo embalsamado...

e vagueio, imersa, em meus sentimentos vazios...

O piscar da noite, com um sutil sorriso da lua,

dão o tom de bocejos da solidão,

da  melodia inacabada...



o dia reclama da noite

hei, voce aí, quero o meu avesso!

e a noite desce... implacável!

deitando sem rubores,  em cima do dia,

cavalgando, como velhos amantes,

E aí... geram o amanhecer



Meninas da noite se despem de resíduos mornos de noites impuras,

corpos trêmulos trepidam em ruas embargadas

a garoa fina escoa , derretendo seus cabelos em purpurinas




O sol vinga o massacre da noite

o dia  descoberto acontece em sua realeza

e os amantes amam, amam, amam...

The end

terça-feira, 26 de junho de 2012

Patologias





Como pianos mudos, sem calda
em melodias, sem notas musicais,
são cantos  da ansiedade
plantados na terra da desilusão

É a Ave Maria soturna...

de órfãos da solidão

que se  esbarram em  águas vermelhas
em mortalhas sem sepultos

buscam sua identidade em brejos

como sapos revestidos de musgos com seus olhos esbugalhados

vivem no  isolamento de  seus castelos de gelos em fumaça,

são os restos mortais que salvam a solidão humana


de  gritos revestidos em doces  murmúrios...


 

The end

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Meu encontro com o Senhor Bopprê



Na França Medieval,
encantada sempre com as letras,
não via a hora de me encontrar com aquele velhinho,

de barbas brancas, sábio condutor das palavras

Líamos à tarde, velhos livros e autores clássicos

Me encantava com sua sabedoria e sua rabujice

Fazia-me deleitar em versos, saboreando o chá de frutas com canela

dizia-me, leia!

e eu ria,

e ele, categórico,

Leia! leia!

Um dia, após a  sua ausencia

fiquei o dia inteiro rasgando meu  intelecto preguiçoso

de repente, ouvi Ave Maria de Brahms

peguei a caneta e fiz uma enxurrada de versos

molhados com a goteira que caia sobre os meus papéis...

vi e ouvi, céus  e infinitos...

mergulhei num universo com muitos versos

e tatei a poeira dos livros

sentindo a textura de sua grafia

emsaboei meus sentidos de bebidas doces de Baudelaire

cai na gosma grudenta de Chateaubriand

aliciei Proust em minha cadeira, colocando-o em minha cama

senti os vapores voluptuosos de Madame Bovary

e esvaziei meus sentidos com a loucura charmosa de Camile Claudel


Um outro dia

Ressurge Senhor Bopprê,

e me questiona, o porquê de tanta bagunça, estardalhaço em minha casa

Falei a ele, estou limpando a poeira do intelecto,

e, ele respondeu

Nada disso é necessário,

a sabedoria é serena e mansa e o vulcão só aparece com a morte

nadas em fogueiras de águas,

o conhecimento é a simplicidade da vadiagem...

The end

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Comunhão com a simplicidade

  (Em homenagem a Leticia Will)
 
Vejo sempre você na janela

olhando o jardim e dando beijos às rosas

todos te chamam de louco

mas loucos são eles que não sentem o cheiro das rosas

e não sabem beijar

Sempre imploro seu olhar,

límpido, com os olhos marejados

transpirando coração e coragem -

daqueles que ainda não perderam o viço da alma - ,

e ainda sabe rezar

comungo com suas lágrimas

e com seu doce vazio

que não esqueceu ainda o sentir

que vagueia no sentimento,

como o beijo da borboleta,

que faz cócegas nas flores

e faz sorrir o dia...

The end

terça-feira, 12 de junho de 2012

Reflexões numa academia



Ah... que saudades,

do tempo em que não havia necessidade de tanta malhação.

Entrando pela primeira vez, numa Academia, me defronto com aparelhos monstruosos, ficando com medo de ser engolida por eles, associando aos aparelhos de hospitais,  onde se faz ultrasom,  dectetando massa óssea, etc...

A impressão que fica, um filme de ficção, com uma tecnologia gritante, onde os humanos ficam à mercê desses aparelhos, e eles, os aparelhos, riem  às escondidas, com o canto da boca, tirando um sarrinho da fragilidade orgânica dos humanos.

Conclusão, me sinto uma estranha no ninho, um peixe fora d'água.
Mas vamos lá...

Assustada, faço a minha primeira aula, olho ao redor e vejo, músculos em desfiles, arre! cada músculo! enormes, crescidos, avantajados, e eu, olhando para os meus, mirradinhos, pequeninos; me assusto.

Uma música ensurdecedora, as pessoas não se olham, só malham, dando extrema atenção para os seus músculos, só existem eles em pauta...não vejo olhares em afetividades, só massas musculares...

Tento me aproximar e vejo distâncias enormes, entre o corpo e a alma, uma preocupação excessiva com o amontoar dos músculos...e vamos lá, é um, é dois, é três; e o compasso continua,  e manda bala!


Vejo pessoas com garrafinhas d'água, suadas, cansadas  e as observo, com seus rostos avermelhados em olhares distantes...

Um sentimento de estética exarcebado, uma preocupação com o futuro do corpo, um passeio em músculos em ebulição. Uma pausa para a água em uma atitude dispersa.

Uma febre em academias, uma preocupação com o corpo, em solidões enevoadas.

Uma despedida, em saudades; um grito no escuro, um pisar em dispersão.

É a vez dos músculos! Por favor, deixe-me entrar, grita a menina consciência-corporal, e os músculos respondem, não, agora não, já foi a sua vez...


The end

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Imperfeição - Anticorpos da alma



(Em homenagem à Violeta Parra)

Eu não quero a perfeição

quero a imperfeição dos grãos de areia esparramados, inundando o mar

quero a terra vermelha, cheia de vermes, enrubescendo o horizonte

como o musgo das pedras que solidifica águas paradas


como o céu escuro, cheio de nuvens, quero o meu avesso...

quero as poeiras  férteis das sensações  que lubrificam os sentidos

como o olhar enevoado que acelera os sentimentos

como a merda expelida  que dá o toque de lavanda do corpo


como as cinzas do carvão que aquecem caminhos


Eu quero me divertir com a minha desgraça

como amores em vão, esquartejados na esquina do pecado

quero o sangue que escorre da alma, alimentando veias sanguinárias

eu quero o ser frágil em suas imperfeições e impermanências


No acovardamento  com as minhas decisões,

quero amargar  na decepção comigo mesma

o êxito para mim, tem um sentido adverso

Só no abandono consigo sentir a pulsação do existir

como um raio de sol obstruído pela noite que chega

"A minha vida é inteiramente fútil e inteiramente triste".

 

The end

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Da menina que virou bicho




Cadê o gato?

o rato comeu..,.

cadê o rato?

voou pela janela, com os sonhos de menina


"Perdi, antes de nascer, o meu castelo antigo".

Só quando deslizo em lamas de ouro,

me esfria a saudade do céu azul com nuvens de cordeirinhos


do outro lado do muro,

Terezinha de Jesus canta em dueto com a menina de ovos de ouro:

A canção da cigana, do boi da cara preta

Na escola maculada, a menina desaprende o verbo e leva chicotadas

de megeras da alfabetização.


Entre risos e choros a menina aquece seus tormentos


À noite, abafa seus sonhos com cobertores pesados, fétidos,


Seus cachos encaracolados são cortados por tesouras gigantes de aço preto


no brejo, aproxima-se de um sapo... ao beijá-lo, o sapo vira jacaré e a engole...


A tragédia do primeiro ato se encerra, e a  a cortina se fecha,


pelos começam a grudar em seus devaneios


seus pés crescem e se petrificam


seus olhos se congelam,


e seu rosto vira uma máscara de ferro

 

o horizonte é cortado por vértices afiadas,

a menina se debruça em  névoa molhada,

seus ídolos caem em mortalhas

nesse calvário, sem nobreza,

o  enterro da menina acontece num dia de chuva...

 


                                                                  The end

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Gotas de sangue



Gotas de sangue

escorrem da melancolia,

do dia que se foi,

do frescor adiado,

do mel que virou melado



retiro-me do ar!

para o aconchego

de ninhos sem ninhadas

de passarelas amargas,

sem brilhos, opacas.



Como gotas de licores afrodisíacos

esvaindo de buracos sagrados

jogo a minha emoção

em águas de bacias mornas


Estou morrendo...
 
fantasio a morte em cenas impróprias para menores de 80 anos


subo no monte de Narayama

bucar a dignidade na balada de Kurosawa

despenco no Weekend à Francesa, de Godard

me despejo nos cânticos de Maria Callas


vejo a minha lucidez endividada

com amanhãs inexistes, em fumaças sujas, disformes,

como espectros atormentados


Estou em ruínas


Me enrolo embaixo de cobertores abafados,


sigo em caminhos, a túmulos sem fim...



                                                           The end

terça-feira, 17 de abril de 2012

Prazeres permitidos



Bem perto de ti, meu prazer reacende,
como uma tocha ardendo num escuro ardiloso
clamando desejos pervertidos,

braços estendidos, mãos buscando afagos,
no simulacro das sensações
encontro nós obscuros, emaranhados,

na fluência das emoções
flechas venenosas espalham seu fogo
em carnes penduradas,

Entre fúrias e sons! bocas em babas!
faíscas ferem o ar tenso, em gozo...

Nessa morada giratória de soluços devassos...
Tateando areias movediças,
Saio escorregadia, quase ilesa,
deslizando na ladeira do prazer...


                                                              The end

Cantiga rosnada



Eu não te dou o meu sorriso

Te dou a minha mão, o meu corpo,

mas meu sorriso eu levo comigo,

no túmulo, sem rédeas,

como o rosnado de cães


grrrgrrrrrrrrrrrrr rrrrrrrrr
grrgrgrrgr rrr grrr balbúrdia, regrf
rrr rrr sbgr
num ghr grrgrrgrrgr


minhas mãos não alcançam seu corpo,
meus braços encurtaram, estão imobilizados

Hostilizo sua presença
Seus clamores são em vão

Vá, cambalear nas ruas

Caia! quero ver os cães ladrarem sua presença,
lamberem os seus beiços

Rumino seu desencanto
Como fontes de planícies sem luminosidade

Hoje eu não quero ser amada!
Hoje eu quero pisar no seu corpo,
Hoje, eu sou o momento.



                                                              The End

terça-feira, 20 de março de 2012

Sensações




Existe um cadáver assombroso  e insepulto das minhas sensações

que me persegue, que flutua submerso em memórias, in memorian...


um paradoxo entre alegrias flutuantes e meu pesar, triste, doentio...


de pedaços de vida, esfumaçados, petrificados, cheios de pesticidas...


como carnes penduradas diante de abutres temerosos


vou escalando montanhas perigosas, em terrores escondidos



Minha alma oculta está no precipício das ilusões


como um tédio jorrado  da  maestria da vida


E assim, vou  me ocultando...


entre pesares e dissoluções,


meu  ser se transforma em  fios de fumaças pendurados


em esquinas que dobram,


flutuam, desaparecem...

e mais nada...


 
                                                      The end






terça-feira, 13 de março de 2012

Violino tombado

Meu coração chora como um violino desafinado...

lamentando acordes que não virão...

como o silêncio desabrigado

como flores sem tons, sem cores

Há um grande cansaço na alma do meu coração

Vivo romances da nobreza, em ficção...

como o violino tocado sem dedos,

como faces tombadas sem risos

São as condolências da razão

Aumentamos intensidades...

mas o coração quebrado com o cadeado arrombado, desconhece

as razões da paixão...

Findamos o existir, arrastando, quase sem fôlego...

Somos marcados com máscaras de ferro...

Viramos soldados do inferno

Defendemos batalhas inglórias

É a esperança com reticências...

São os favores do amor

É o fim da espécie amorosa, sem frison,

Sem som, sem clarão,

Em plena escuridão.

 
The end

quinta-feira, 8 de março de 2012

Fundo do poço


Mergulho no vazio em cacos

ouço ruídos do trincar de  ossos

vejo a escuridão e me apoio em paredes de papelão

aquieto e aqueço minhas entranhas

pra não sufocar, angario suspiros e respirar...

farta em comilanças, me despejo no poço sem fim,

atravesso seus detritos e sua escuridão,

encontro cogumelos coloridos,

fatias de sentimentos cortadas, cheirando à mortadelas,

adormeço em fezes endurecidas

visualizo antenas partidas em curtos circuitos

faíscas do sangues em borbulhos...,

espremo toda a dor

descarrego  meu varal de de sonhos apodrecidos da infância,

desperto na maturidade endurecida, tesa, escorregadia...

abraço meu limo, meu cheiro de desamor

acaricio meu desnudamento,

em cinzas, me vejo

voando pelo infinito...


 
                                                                       The end




                        

terça-feira, 6 de março de 2012

Compradora de sentimentos


Compro sentimentos,

pago bem, quanto você quer??

pago um abraço, um aperto, um beijo...

como sementes que germinam, quero viver...

semear frutos e flores,

me lançar no rio da fertilidade,

sentir pulsações e inquietações...

não quero a quietude de águas paradas,

quero a entrega, o sonho, a magia...

a fantasia, o toque...

não quero o bolor do ranço...

do medo, da desesperança, da apatia,

quero árvores verdejantes,

ventos em agonias

varrendo dias parados em desesperanças

quero o querer

quero o amor, sem o preconceito

quero o sentimento...

                                                                     The end

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Como a dança do vento na escuridão

um furto da emoção

um ninar repleto de canção

um abraço sem função

um homem sem coração

uma cilada da razão

um olhar embaralhado

uma lágrima apertada

como fios de fumaça negra,


saindo do corpo em brasa,
da participação do amor,
sem bolor, com odor,
como fezes contidas,
da dor incontida,

um encontro com os músculos da alma...

                                                                 The end