terça-feira, 30 de outubro de 2012

Incógnitos




Quem sou eu?

Sou o coração aberto, que descompassa
em barulhos infernais e harmoniza seu compasso
ao som de Brahms

sou aquela pessoa mesquinha que negou pão ao menino...
que não deu um sorvete ao menino do rio, simplesmente por preguiça,
preguiça de atravessar a rua e comprar outro

Me dói estar incógnita nas ruas da cidade

estar na multidão com uma perna só
quando ouço, perneta!

Só encontro meu elo em bares escuros com almas deserdadas


acho que sou marginal, ou general! dá na mesma, ambos sofrem de melancolia...


Como os violinos da cidade ou de praças públicas, que choram...


Como o moço sentado no banco da praça, com olhar baixo e a mão no queixo...


Como mendigos da rua, estamos sempre famintos, aliás, nossa fome é pior que a deles,


porque somos insaciáveis, insatisfeitos.


Eles vivem na penumbra aconchegante do desassossego, do vazio...


Pego meu osso e vou comer longe de todos...


não quero dividir, repartir ou sorrir...

The end

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Memórias afetivas




Em reminiscências, vou buscar morada em versos antigos...

visualizo amores antigos - o beijo roubado, o primeiro namorado,

lembro de Cláudio, Luiz e José


um cheiro de morte atravessa  paredes úmidas, de um passado em fumaças...


um bolor indesejável afeta   poros de minha servidão,



Tento  respirar... e passear entre imagens,


tristezas evaporam em suculentas taças de vinho


aterrizando em territórios descalços, inférteis


em clamores de apatias e desejos,

rótulos se desfazem na vadiagem

rubores emergem em conquistas novas...


Com os lábios pintados em  vermelho, ajeito minha cara amarrotada,


juntando pedaços, em restos disformes


saindo pelas ruas, sem garantias

esfrego minha libido em paredes sujas

desfaço nós cruzados

grito os gritos dos aflitos em vidas lúgubres!


ruborizo sem as vergonhas alheias


desnudo e entro num roupão caloroso

cheio de fios cortados em sedas sujas

amacio minha dor em corpos macios

em frenesis, danço a valsa dos enamorados


num salão prateado revestido de pedras reluzentes,


sou agraciada em correntes de ouro maciço

onde fico feliz e presa em sistemas antigos -

de barbaridades em Antígonas,



bato o martelo e adquiro todas as obras clássicas do


romantismo,  quadros de arte e esculturas gregas antigas,


Em despedidas, me desfaço dessas orgias antigas

volto em vida para o meu quarto escuro, em nobreza,

respingada de roucas escravidões...


 

The end

Escrever...



A sensibilidade escorre e escorrega no sebo do sebo, bebendo águas impuras das vicissitudes da vida...

O  Inconsciente se abre e irrompe, naufragando em obscuros desejos

jorram idéias e alucinações...

persisto, insisto, desisto.

Novas sensações marejadas saem em conquistas bravias

desejos de morte perfuram vidas vazias

farejando o cheiro do mundo, imundo de desejos e superstições

Não se pode cair em desfiladeiros de agonias

Reajo, vocifero e em latidos roucos tento achar o rabo escondido entre as pernas

Almas ensaboadas em perfumes vencidos sonambulizam em ruas empoeiradas

Um desconforto no peito...

Em vistas turvas, canoas furadas juntam corpos úmidos, feridos

Em delírios da noite, me travisto de ardores apimentados, atravessando bares decadentes, fora de moda

cigarros acesos invadem penumbras cinzentas, onde vultos esquálidos em cheiros solitários divagam em boemias...

Um silêncio em fumaças exalta a magia daquele momento único, da solidão, de seres empoeirados

Vingo simplesmente, sem melodias, em notas desafinadas...


The end

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Simbiose

Não sei como aconteceu...
Quando acordei estava aprisionada
amarrada na cama com o seu cachecol

Em reminiscências veio o jogo da amarelinha
o namorico no escuro
os beijos suculentos em salivas

hoje, minhas veias espumando sangue
sem memórias
vejo-me presa

como estátua caminho pra crucificação
dos libertos
dos fracos
dos oprimidos

Simbiose,
Por que me crucifica tanto?

Não consegue andar sozinha?
E eu com isso?

Caminho no desconforto, aprisionada a ti

Escondo meu rosto, minha vergonha

E em  seu colo adormeço no sono da morte...
The end

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Celulite da alma




Difícil...

contemplar rios poluídos
natureza morta...

como seres inanimados
vivemos no fictício

acumulando celulites e gorduras
em nossos destinos

somos devassados por dinossauros,  rinocerontes e monstros gigantescos

transformando rapaduras em doces
perdemos a genética
esquecemos as origens

nos calçamos de raízes apodrecidas
vingando somente o desamor...

poluimos nossos destinos
em mãos alheias...

fraturando inocências
somos a espécie desvalida
mantida em vidros embaçados
como seres embalsamados

arrotamos o azedo
e cheiramos a vinagres em conservas...

É o fim da espécie
É o início das celulites

Entre mentiras e amebas
damos um belo sorriso

Alô, alô, eu estou aqui

Tim Maia!

matem o síndico!

E vinguem!
The end

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Fêmas descalças



Correndo em calçadas disformes
Se esbarrando em transeuntes obscuros
Emudecem, com medo da escuridão...

Lembram de sonhos antigos
dos escombros do Jardim da Luz
em seus prédios escuros, sujos,
em tons de bordéis

Sentem-se violadas, violentadas
No mudismo da vadiagem,
Tentam acordar desses pesadelos

Em suas mochilas coloridas
aguardam o amanhecer
em praias...
sujas, nebulosas

andam pelo mar
em lembranças...
sonho ou pesadelo?
realidade ou imaginação?

Recorrem às cores da magia
pra esquecer o fétido do ontem

flutuam entre pedrinhas, pedregulhos
em caquinhos de vidros
raspando seus delicados  pés

nessas dores miúdas
se abstraem de dores mais profundas
e esperam o anoitecer

entre cinzas do passado
em  queimaduras antigas
brincam com as luzinhas coloridas
na  fonte dos desejos

colorindo  o amanhã
em um futuro bem próximo
catando lantejoulas de desfiles do passado

caminham solitárias, sem esperanças,
em esperanças...
 

The end

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Inexplicável


Não tem explicação.

É inexplicável, é assim

o pássaro voa

a menina caminha


Os muros continuam altos



É assim

Não
Não adianta

Tudo bem
Correto
Com certeza

Mas não dá

Claro,
Sim,
Quem sabe?

Qualquer dia

Então tá.  

desculpe.



The end





Eu queria tanto que a minha vida fosse assim...



Como um lavar de copos
a água escorrendo,
e os copos limpos, reluzentes...
 

Sem inquietação e rodeios

Na simplicidade do fluxo da água corrente

na pureza da água cristalina

lavando a louça, limpando a cozinha

E tudo ficaria limpo e arrumado

Sem dores, sem devaneios
o viver deveria ser assim,
como a água corrente,
jorrando, como um fluxo permanente

Mas me esbarro nas pulgas de minhas neuroses
que coçam até sangrar
que incomodam...

o estômago enjoa, a cabeça dói
e o pensamento não para...

O círculo da vida

O eterno retorno de Nietzsche

Não sei...

Queria sair desse redemoinho

e jorrar bem longe toda essa água,
como um esguicho limpando as poeiras dos céus...

Mas acordo
igualzinha ao ontem, hoje, amanhã

Finalizo minha existência
operando cicatrizes
entrando no redemoinho
e brincando com os bebês...

 
The end