quinta-feira, 21 de abril de 2011

Regresso

À noite acontece o retorno....
Pernoito...
Um corredor soturno acolhe estátuas enfileiradas de bronze
soldados com armaduras gigantes...
como   um fantasma oculto,
vislumbro tons melancólicos e sepulcrais


Atravesso o corredor e saio do outro lado da rua....

Há claridade. O sol está chamuscando...

Me defronto com a estátua de David de Michelangelo
me enterneço e vejo uma procissão de seres em devoção
veias latejantes saem de suas coxas e de suas mãos....
é o mármore transformado em vida....
enxergo marcas e vísceras....
contemplo-a....
passo a mão em meu rosto e sinto minha pele macia e quente.....
e penso...nos corações inquietos e pulsantes....
Há pulsação lá fora....

Caminho entre jardins verdejantes.....e vejo três pássaros azuis voando juntos....
Tento captar esse instante...
Do outro lado da rua, vejo árvores tristes e secas...
Penso em tolices e nos tolos..

arremesso uma bola ao longe....

no parque começa a escurecer...
um nevoeiro se aproxima e começo a congelar....
vejo velejadores guardando seus barcos....

metrópoles agitadas dão furos de reportagens....
sinto tremores internos....
penso nas idiosincrasias e incongruencias humanas...

atravesso a balsa....

lavo as cortinas sujas do meu quarto
assisto um filme em quarta dimensão
coloco um óculos colorido e me aposso da existência

choramingo...
fertilizo e me fortaleço, eliminando os nós de minha colcha rendada....
mentalizo a Índia e tomo um chá com amigos...
vejo o choramingar das árvores.....
Anoitece, as crianças voltam a dormir....
Limpo o quarto e faço a faxina da casa....
Espanto os mosquitos venenosos....
Fecho as janelas....
Tudo volta a adormecer......


                                       The   end

domingo, 17 de abril de 2011

Ramela nos olhos

Eu acredito em papai noel...
Tiro a ramela dos olhos,
me espreguiço no berço das ilusões,
acendo a luz do quarto escuro,
paredes cor de rosa, esburacadas...
O ursinho virou chimpanzé...
Dou longas passadas no tempo...
Delírios antigos,
estremeço nas convicções...

Chá de Mozart

Me contamino de venenos mórbidos exalados do social, vomito vísceras entaladas, como o fígado,pâncreas, baço...

Me refaço, mergulho na natureza e me recomponho com um chá medicinal Mozart, limpo meu fígado e minha vida de porcarias e quinquilharias; renasço com a nova nascente do rio, agonias do deserto, em quinta dimensão, transformo-o num oásis de fertilidades comandadas por mestres da poesia,da filosofia,da solidão...

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Ritual do amor



Meu canto de amor é como um gemido do blues: 
rasgado, sofrido, melodioso, perdido... 
como os apelos desencantados da vida.


Uma sensação...um ombro descoberto, um olhar.
Um coração em pulsação, um fio de esperança.Uma fagulha de desejo...
e o desaguar do coração...

O resto... são choramingos da razão,
das dores descobertas,
da exposição crua
da infelicidade de ser...

De afetos contaminados
de seres perecíveis...

Amor é dor,
dos afetos rotos
da morte prematura

é abstinencia da razão
clamores incinerados
perda de si mesmo

é o jardim dos esquecidos,
é a vitória desprogramada,

amor é odor,
incolor, onodor,tira dor

clamor silenciado
dos setenciados...
dos injustiçados...
dos injuriados
dos anestesiados
dos enfezados.

Os sintomas do amor são atemporais, universais....
O amor é a sentença da razão.

Você está preso!



The end


Filhos da imperfeição

Passo a mão em meu rosto e limpo névoas do cotidiano....
Vejo uma foto, eu eu meu irmão no jardim da luz,
sentados, em tenra infancia, de mãos dadas.
Adormeço no berço com nenês de dentes afiados,
sofro mordiscos prá esquecer as dores da perfeição.

Nos arredores do desajuste,
vou ao encontro dos escombros da infância,
dou uma volta em carrinhos quebrados,
em circos dos arredores,
jogo fora, meu saco de bonecas de pano,
brinco de casinha com maria manca,
amiguinha de infancia,
canto, oh canta cigana, comTerezinha de Jesus
filha da perfeição...

Entro em telas de filmes clássicos antigos,
no filme Ébrio,
Bebo nos botecos da esquina
com Vicente Celestino, e juntos cantamos Coração Materno.

Me fantasio de ébria das afilições e dos desatinos,
encontro maria lantejoulas, me empeteco de balangandãs,
e juntas vamos encontrar outras filhas da imperfeição,
Maria Manca, Junca Bebe-Bebe e Zé Ampulheta...
Formamos assim, o cordão...colorido, esgarçado.

The End