quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Uma cachaça, por favor




As chaleiras estão fervendo
ventiladores no alto não sustentam o calor
eu preciso de um refrigerador
panos úmidos não seguram fogos de artifícios

Eu preciso ser
as pessoas são, já dizia o rei Arthur
mas cadê ele?

somos plasmas, cataplasmas
soltos no ar
sementes jogadas em vasos sanitários

vivemos parcelados
a minha primeira parcela já tá paga
o que faço com as restantes?
o saldo acabou,
estou suando, carpindo com a enxada rochas duras
vou e volto
volto e vou

caminhos isentos são o nosso habitat
mas queremos sempre ganhar
somos ansiosos, desonestos

só o cativeiro é peculiar
como feto sofro pancadas para abrir os olhos
que um dia se fecharão

vivemos em dois lados, em dois hemisférios
a vida dupla amansa a escuridão
existe uma rua sem saída
são os caminhos mornos que rondam a cidade

ainda tem uma raspa de osso, quer comer??


the end