quinta-feira, 17 de março de 2016



mão no rosto
e na coxa
a sirene
abafa seus desejos

A moça da Olivetti




asdfg asdfg asdfg
asdfg asdfg asdfg

As tardes eram dela
daquela moça
com cabelos encaracolados
se preparava para mais uma aula

ASDFG ASDFG ASDFG
caminhos incertos
altivez do caminho escolhido
era o afinco e o refinamento

dedos longos
mãos levantadas
e o elogio
dos professores
o estopim do momento
exímia, longilínea

ASDFG ASDFG ASDFG

sonhos e travessias
queria ser
Doris Day em comédias românticas
Ana Karenina na pele de Vanessa Redgraves
suas leituras

em seu degredo
deleitava-se com Dostoiévski
comparando seu exílio ao dele

pobre pequena
de serviços gerais

ASDFG ASDFG ASDFG
em prisão serviçal
mais um dia de trabalho
e o
elogio do chefe

acabou o expediente
bater o cartão
ajeitava o cabelo
ASDFG ASDFG ASDFG

quarta-feira, 16 de março de 2016

Notas ao consumidor



deu tudo certo, seu crédito foi aprovado
no caso de defeitos
reclame aqui
ou procure o SAC

acesse o documento em formato PDF. - Anpuh

vandalismo & negligências e corrupção
é mais você!

Identidade



cadê você?
um sorriso de escárnio
uma audição escamoteada por
sons inaudíveis
uma vontade emanada
não sei de onde
que justifica sua presa em redemoinhos

me vem subitamente a visão de um cadáver
e da vida vegetativa
que corre solta
em pedaços
restos mortais
sucumbem em cinzas
um nevoeiro cobre rostos
em tons cinza-preto
devaneios oníricos
tematizam
espécies em especiarias
a identidade é um cancro da imaginação
the end

quinta-feira, 10 de março de 2016

The end


o meu poema terminou.
as miragens já não existem mais.
sai da fantasia e fui pra realidade esdrúxula
e as palavras já não mais cabem por aqui.

Condolências


Não sei ser princesa
na poesia
sou favelada

minhas palavras estão encardidas
do pó desumano que insiste em querer
reger as nuvens

não adianta utilizar alvejantes
sua alma está escura

meus pés descalços, 
doem
estão feridos

mas não preciso de suas sandálias prateadas
meu sangue se esbarra no ferro e se 
mistura ao barro 

sangue com barro reluz
novas matizes


AQUI, SÓ MIGALHAS

de letras partidas
sujeiras escondidas
de livros novos,
ensebados

eu quero odores
de restos mortais
dos poetas clandestinos

chega de Marivaldas, Marinaldas,

eu quero Divina Luz dos cegos
sol despejando claridades

quero ser, estar,
arder brasas 

formigar...

Meu antigo prédio de 3 andares


A  tarde melancólica visita meus pesares íntimos:  um prédio, de 3 andares, minha moradia antiga, ainda reflete as pessoas que ali viviam... minha mãe, pai e minha figura que agitava todos os tremores internos. Ali, ainda não existia a solidão.

Na esquina, a locadora fechada, hoje, uma Droga Raia.  Meu interior ainda arrota uma felicidade discreta desses doces momentos de outrora. Havia o sorriso da minha mãe, sentada no sofá e sorrindo pra mim. Meu pai, com suas camisas de mangas curtas, em suas andanças,que  não parava: ora o jogo do bicho, ora o pão quentinho da padaria, e o seu jornal televisivo  que não deixava de assistir.

Eu, em meu jardim, repleto de rosas, ainda me encantava com o entardecer. Era a menina, ainda desajeitada,   que acreditava e tinha esperanças no recanto do seu coração...

Hoje, passando em frente do prédio, uma onda vazia de desassossego me invadiu, percebendo a transitoriedade do tempo que não para de marchar, os amigos que se mudaram pra bem longe, amores antigos que não existem mais, e a vida passada a limpo que não ressoa mais ecos de esperanças e ilusões.
Os cabelos grisalhos da menina que entrega o tempo nas mãos desse vazio.

Um eco dessa lacuna, percebendo a ausência de crianças brincando nas calçadas, a rua solitária, íngreme em seu espaço turvo, quase sombrio.

Figuras estáticas



Governos passam, retratos falam.
Quadros pendurados
enforcados em escolas públicas.
Lá vão eles, com suas gravatas e sorrisos arruinados...
Tomé de Sousa, Mem de Sá,
E um saco de estopa cheio de bonecos de panos. Generais da banda de serviços gerais & cia. Ltda.
Diga-me com que andas, e eu te direi quem é...
Do outro lado da rua, figurinhas carimbadas..
os meus já se foram, e os seus?
Aqui, só ficaram personagens, Tião, Gustavo, Vô Rodrigo e Preto velho.
Regados pela sabedoria lá vão, José Simplicidade, Mário perneta...
Mas foi só o que restou...
cinzas prateadas
chapéus enterrados, uma Cruz...
e as minhocas regozijando festanças