A tarde melancólica visita meus pesares íntimos: um prédio, de 3 andares, minha moradia antiga, ainda reflete as pessoas que ali viviam... minha mãe, pai e minha figura que agitava todos os tremores internos. Ali, ainda não existia a solidão.
Na esquina, a locadora fechada, hoje, uma Droga Raia. Meu interior ainda arrota uma felicidade discreta desses doces momentos de outrora. Havia o sorriso da minha mãe, sentada no sofá e sorrindo pra mim. Meu pai, com suas camisas de mangas curtas, em suas andanças,que não parava: ora o jogo do bicho, ora o pão quentinho da padaria, e o seu jornal televisivo que não deixava de assistir.
Eu, em meu jardim, repleto de rosas, ainda me encantava com o entardecer. Era a menina, ainda desajeitada, que acreditava e tinha esperanças no recanto do seu coração...
Hoje, passando em frente do prédio, uma onda vazia de desassossego me invadiu, percebendo a transitoriedade do tempo que não para de marchar, os amigos que se mudaram pra bem longe, amores antigos que não existem mais, e a vida passada a limpo que não ressoa mais ecos de esperanças e ilusões.
Os cabelos grisalhos da menina que entrega o tempo nas mãos desse vazio.
Um eco dessa lacuna, percebendo a ausência de crianças brincando nas calçadas, a rua solitária, íngreme em seu espaço turvo, quase sombrio.