terça-feira, 1 de dezembro de 2015

A língua




espeto diabólico
não se rende
revira o útero

rainha da usura
perversa que não se cala

afrodisíaca
avantajada

volúpia e sangue
morde o veneno
que alimenta o rabanete

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Confinamento



lacra sua emoção
analisa o DNA
da orfandade de
lágrimas perdidas

coloca seu silêncio no seguro

sua secura pode estar agregada
à falta d'água



terça-feira, 27 de outubro de 2015

Fome



do peito, do leito, 
do pão de Cristo

da sardinha enlatada
dos mordiscos na pele suja

ai de mim
famigerada
deito com os cachorros 
em calçadas
sem aproximação
lambendo feridas
de um tesão recriminado
acuado

engulo o azedume
do morango ácido
e sinto
a borracha queimada
embaixo do travesseiro

e os dias acontecem em fumaças pretas...


The End

O universo é um e-mail



Seja bem-vindo
noites às  escuras

o dia está amarelando

etiquetas  arrancadas
o manequim
ficou de pé e falou

estrelinhas decadentes
e você dorme
em caixinhas de fósforos

serviçal dos costumes
bate de porta em porta
e ninguém atende

coloca pisca-pisca em sua vida 
e a placa vende-se


The end

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Toque



você passa longe
e olha assustado
o outro

tomadas em circuitos
não toleram a junção

cortiços em favelas
mãos desunidas

um olho fecha
o outro não enxerga

encostado na parede
se balança
como autista

o homem se torna anão
dos seus desafetos



The End

Paralisia


não consigo levantar
nem olhar

o mundo ruiu
ficou só miúdos
de frangos de pestanas
de dentes quebrados
que não conseguem
mais sorrir

desencorajado destino
destituído de sua razão
arrasta e balança
sua cabeça com não

Nulidades negativas
gente miúda
sofrida
maltratada

o tônus da pele amarelou
e você desfiou
mil conversinhas

não consigo me levantar
minhas pálpebras caíram

dentro um gelo só
e a imposição
de ser
foi rastreada 
por sobreviventes


The End

terça-feira, 13 de outubro de 2015

           Meu corpo


espreguiça-se entre outros
generoso, atrevido
solta-se
e desgarra do estofo

guarda folias e enzimas
dentro da barriga

movimenta e esbarra em outros
silhueta sinuosa

lindo
magnífico
da vida
da busca
da precisão

outrora encostado como almofada no chão
como mobília adesiva
fazendo contraponto na escuridão

defumado
faz as vezes do peru assado

encantado
dança a valsa do adeus


                   the end

Palavras

    



em desajustes
provocam
ou adormecem
em colos sujos

vitrines embaçadas
e não se ouve nenhum ruído

as palavras caladas
do suicida    
da moça atirada da janela

só sussurros na escuridão
como fumaças em ventanias

Solo
Solicitude
Socorro   

E a palavra continua num vão   



The End

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Pecado


lágrimas internas não calam
é o fim

não existe fim
fantasias reinam

viver no escorregadio
da cobiça da monja dos costumes
é aliciador

caminhos sonolentos seviciam
carícias em areias movediças

Fim, não matarás
Monte das Oliveiras
Só Cristo!

Desejo
Acaricie seu ventre


the end

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Percurso




caminha
obedece o farol

pensamentos
são absurdas intenções
fome
do que?

desengata a primeira
engata a segunda
escureceu

vende-se pneus
usados

The End

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Para o leitor




O que você quer?
rochas duras ou rosas murchas?
quer adivinhar, não é?
Por favor, não me venham com beicinhos

Quero a bravura dos mares!
O escancarado atrevido!
os neologismos de F. Pessoa
a bruxaria de C.Lispector
a putaria do Marquês de Sade
e como não consigo abocanhá-los,
gradualmente, se contentem com os meus nichos
ou meus lixos, você escolhe


The end

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Perecimento

                             


páginas abertas
apesar do mofo

alimentos perecíveis
estocados em armários

uma gravura
com a mão no queixo
um sábio

a maçã 
murcha
deteriora



The End

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Fim de noite




eternidade
recomeço
fim

lençóis sujos
portas abertas
cocô de gato

cachorro perdido
com colete
sem coleira

madame quebra o salto
piteira em fogo
queima seu vestido
longo em longa metragem

e Viramundo
vira
Viralata
                          Já passou 

momento único
foi-se

agora
o trem corre em alta velocidade
abaixa
pula
senão você morre



 the end

O terno, de Peter Brook



Rever Peter Brook aqui em São Paulo,  raro privilégio; 90 anos, de uma aura de pura sabedoria, eclético, que ao mesmo tempo que produziu um espetáculo de 9 horas, (1985), Mahâbhârata, baseado na história épica indiana,  desenvolve jornadas introspectivas, de raros sabores.

A peça prima pela sua delicadeza e simplicidade (há magia na simplicidade).
Atores impecáveis, carismáticos, livres, precisos, flutuavam no espaço, em energias de leveza e competência. 

A genialidade da encenação,  corroboram e fomentam ainda mais os elementos cênicos; texto x cenário x atores.

O autor, negro, (Can Themba) escreveu na África do Sul, (anos 50), esse conto "o Terno", em  meio ao  apartheid, que massacrou todos os autores negros da época. 
Os livros  de Can Themba foram banidos e ele exilou-se na Suazilândia, onde logo morreu de pobreza, tristeza e acoolismo.

Em resumo, a história  fala de um triangulo amoroso, no qual, "O terno" (magistralmente),configura-se como um signo forte da figura masculina do europeu (colonizador) que invade a vida do casal.

Reafirmando, a simplicidade  da encenação, me comoveu.
Fico com o simples. Chega de hermetismo, neologismo, "ismo" e viva Peter Brook!

As últimas conversas




Aplauso para o nosso saudoso Eduardo Coutinho, em seu último filme "Últimas conversas".
Um filme quase prenunciador de sua partida aqui da terra; em sua voz rouca, embargada, anuncia que talvez não termine a filmagem.
No seu primoroso conteúdo, E.Coutinho, consegue, com sua genialidade, transformar o comum num material precioso. Elimina as barreiras do preconceito e se fixa nas têmporas de cada adolescente.
Um grandioso Maestro regendo sua orquestra.
Temos a tendência de abolir, exterminar esse comum do nosso caminho. Leigo engano! No filme em questão, percebemos o ser humano ser devassado, trocando seu pedal e se imantando de sobriedade e encantamento.
Num grupo de adolescentes estudantes de escola pública, em sintonias emocionais diversas, vê-se o brilho da espontaneidade, a pureza das palavras e ações.Suas histórias são percursos de VIDA!
Não apresse o curso do rio....vamos sentir a respiração, o som, o tom, a imagem de cada ser, pequenino em sua grandeza idiossincrática, onde seu gens é deflorado milagrosamente, pelas mãos desse grande encenador.
O ingenuo vira profano, e o sacral se profaniza nos cantos líricos de cada profeta, ali sentados.. E Coutinho, como Moisés, descobre o caminho das águas.
A arte é isso, quando você sai do cinema, com sua mente estralando; seu ser sendo atingido por flechas da imaginação. O sepulcral foi morto em sua mediocridade e preconceito.
Sua memória se abrasa e faz esvair rebentos em gritos, nascendo....sendo expulsos do útero escuro e perscrutando esse admirável mundo novo.
E o final do filme, com uma menina de 6 anos, em sua espontaneidade diz, ou melhor, profetiza: Deus é um homem que já morreu...
Que the end abrasador, aquela menina graciosa, como o anjo anunciador, se rende aos encantos da sabedoria e transcendência da eternidade de EDUARDO COUTINHO.
VIVA EDUARDO COUTINHO!
BRAVO QUERIDO SER HUMANO, DEMASIADO HUMANO...

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Acordes


manhãs  em suas ordenanças
cansaço
sobriedade

paz 
em caminhos sonolentos
                  
asas coloridas de pavões
que abraçam versos
e  os depuram 

ruínas passadas
soterradas  em sarcófagos
com seus tesouros apodrecidos

e o vento se sobressai
com suas cantigas sem medo

coragem, diz o ancião

suba os degraus da fome
e saciará seus presépios
em encantos e sacramentos

fortalece sua anima
que apareça seu animus

visita as tragédias
e grita na Acrópole
o suor da noite
da escuridão

e Afrodite e Zeus
te abençoarão
em sua manada

e os meninos
brincarão de roda
com suas tranças louras
abraçando o carinho
que soçobra 
em casebres
fechados

a fumaça do gelo
degelará sua alma
que ainda perdura


The end

Remendos



esgarçados em fios de prata
um vestido de cetim
uma sandália prateada
ainda rondam os bailes da cidade

reerguer as costas
seu coração ainda  pulsa

pernas sacolejam
e o viço se sobressai

são as cantigas de outrora
o brilho
da  vaca
que ainda consegue te alimentar

ursos rodeiam o arraial
deixa acontecer!

memórias cruzadas
da idade média
com seus ritos fechados
que se abrirão



the end

Cadafalso






Inconsciente:
figura de retórica
alma:
figura decorativa


o seu dia é hoje
e não amanhã

o amanhã é o calo do sapato
a rua com poças dágua
o lixo acumulado

mas vai passar

como travestis vestidos de anjos
picados por cobras venenosas
que arrastam suas asas para 
um caminhar

Do infinito
fantasias esboçam um sorriso
em quimeras,

Águias e pássaros falantes
tocarão seus desejos
te permitindo voar



the end

Fica




fica mais um pouco
só um pouco mais
meus pés estão gelados

ainda tremo
mas passará com sua presença
nostálgica, 
fantasmagórica

perdoai nossas dívidas
assim como perdoamos nossos devedores

água rima com anágua
que ainda sobressai
em meu ventre
obscuro, latente

aquece minha mão
folhas se abraçam

o avião passa
levando pedidos para outro mundo



The End

Hoje




Hoje,
como todos os dias
aguardo...

um pombo correio
trazendo notícias
de Alfajares

um mosteiro libertino
um pé descalço
um abraço gigante

pedras imensas,
musgos  em sua volta
água cristalina

ouço Chopin
estática

só pra voltar a sentir...


The End

quinta-feira, 9 de julho de 2015

Parasita




vermes desfilam em paz
nas paredes intestinais
superstar
deixa estar

figuras engomadas
homens de cera
chapéus sem véus
prevaricação

execração
peste
maldição

desculpas súplicas venenosas
rejeição pênis sifilítico

proteja seu cu
despeja
fascismo
altruísmo
bundismo
fedelhismo

linguado da linguagem

olho cozido
língua venenosa
descer
goela

sabichão
é cuzão


The end

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Versos murchos




jogo palavras
impulsiva, derrotista
preciso da metrificação intermitente da composição
impotente, intuitiva
isso não basta!

olho as fezes do meu rebento morto

não consigo me repaginar
o obscuro é temeroso e tenho medo

não consigo escrever a

métrica isométrica
paraplégica em meus culhões
e meus miolos não funcionam.
não adianta, a criança interna chora
permanentemente.
amigos ajudam a enxugar as lágrimas

ruídos alarmantes abalam 

estruturas emocionais acorrentadas
em sistemas neurológicos

vamos fazer um pacote:

sou prurida
renasci
ouvi
engravidei
abortei
já morri.

solfejos de Beethoven eliminam

crateras em audições sensíveis
eu já disse:
não volto mais atrás.


The End

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Uma cachaça, por favor




As chaleiras estão fervendo
ventiladores no alto não sustentam o calor
eu preciso de um refrigerador
panos úmidos não seguram fogos de artifícios

Eu preciso ser
as pessoas são, já dizia o rei Arthur
mas cadê ele?

somos plasmas, cataplasmas
soltos no ar
sementes jogadas em vasos sanitários

vivemos parcelados
a minha primeira parcela já tá paga
o que faço com as restantes?
o saldo acabou,
estou suando, carpindo com a enxada rochas duras
vou e volto
volto e vou

caminhos isentos são o nosso habitat
mas queremos sempre ganhar
somos ansiosos, desonestos

só o cativeiro é peculiar
como feto sofro pancadas para abrir os olhos
que um dia se fecharão

vivemos em dois lados, em dois hemisférios
a vida dupla amansa a escuridão
existe uma rua sem saída
são os caminhos mornos que rondam a cidade

ainda tem uma raspa de osso, quer comer??


the end

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Sobrevivência




Sobrevivi
e daí?


têmporas rachadas
calos nos pés
torcicolos &
espinhas


furo de reportagem
Anelise pirou
nos 500 metros

mas missil brasil
foi vitoriosa
rechaçou vítimas
misturou a paulista,
em mistura paulista
o preto e branco
em black and white

self ficou em segundo lugar

aglutinou seres x miolos
fritou os tutanos

no fogão
rodelas de batatas
com carne de porco
o bife queimou
o estômago começou a doer
acabou o gás

Luzes da Ribalta
no Teatro Municipal
em terceiro

faltou luz
Greta Garbo levou um tombo
as gatas não têm mais cio

o tesão está irrecuperável
por acidentes
em transtornos
de virilidades & vaidades

Sobram
vilões em telões
meretrizes caçadas da Luz

restaram
garotas sem programas
sem indulgências
sem cafetões

e a poeira que insistem em
chamar destino


The end