quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Rostos sem memória

Rostos desfigurados submergem num mar de horror,
com cicatrizes perfuradas, boiando no universo da dor
empretejados, esfarelados como resíduos do desamor
esvoaçantes, atirados  num céu em torpor...
 
Urubus cantantes, farejadores da morte espreitam,
com  suas pupilas esmagadas olhos rastejam
fascínoras da vida,roedores  de mentes submergem
num mar escuro,  chuvas pretas acontecem.
 
No céu vermelho escuro sangrento-purulento
desamparados roçam em coágulos sanguinolentos
emergidos de vítimas inocentes vômitos irmanados
fezes  fétidas desfilam em bueiros atolados.
 
Moribundos fanáticos presos sem epidermes
em corpos  tôscos com pele  bichada de vermes
rostos desfigurados soluçam  escondidos
buscando seus restos nos achados-perdidos
 
Memórias na escuridão soçobram esvaídas
buscando  reminiscencias trituradas escondidas
esmagadas num chão esfolado, quebrado
sussurantes,pedintes, em esmolas atiradas.

 
The end

Noites noturnas

Essa dama da noite
transfigurada... travestida...
Escondendo seus falsos pudores
Com um ar requintado e nobre
Emerge na noite, única e soberba
Cálida e Sensual
Devorando, sugando
Cantando...
Cânticos mortais e devoradores
Como no circo de horrores
Entre ruinas e destroços
Captura o sangue de suas vítimas
Transformando-o em nectar das damas noturnas...
Como doidivana
Vai se apossando
De suas presas
Entrelaçando-se com elas...
 The end

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Mulher apaixonada

Minha primeira crônica.



Mulher apaixonada é foda!
Nesse rio de carências, sem "inos", sem cobertores masculinos, a mulher deflagra.
Nesse mar de solidão, nessa busca da tampa da panela, a mulher se esvai aos encantos masculinos, ou nos escombros desses abraços partidos...
Fica então, a fêmea,  desejosa do macho, se buscando no processo de sedução, querendo a todo custo, encantar, consquistar o precário homem, em  suas inseguranças,  afirmações e fragilidades.
Mas pergunto, o que adianta a mulher se florir tanto e esparramar sua libido, desejos e encantos,  se o homem  escolhido é vegetariano e só come intelectos! Fica aí, a confusão da "presa" no processo das escolhas erradas...
E a paixão é gutural e  confusa, é um misto de tesão, floreios, projeções, indagações...
É companheiro, mas ela existe e despedaça corações, gerando  mortes e suicídios....que horror!
Mas,e a mulher, como fica?  Querendo desfilar com seu macho, como uma pavoa, ela se lambuza de cremes, tratados e etiquetas...
O homem, nesse patamar, se sente o herói no seu pódio, com todas essas disputas fúnebres, ele se torna uma espécie, rara, quase sagrada ao universo feminino...
O social encarca e encarcera desejos femininos em guetos escuros e soturnos... ficamos assim, a mercê de afetos não correspondidos, de carências e sonolências...sentamos a beira de abismos impregnados pelos ritos de passagem.
Assim, ela cobre sua nudez com o afeto da comida, da oração ou da perdição?
 Mas o que é perdição? Senão o ato de se perder ou perder-se?
Então, é preciso se  perder, para encontrar a  genialidade, a coragem de se lambuzar dos prazeres masculinos sem cair na rede tosca do desamparo e da solidão...
Erguer os tabus e mesclá-los em arcos iris da metamorfose, da alquimia sorrateira do encanto, genuíno, pueril. Dessa sensibilidade feminina, tão formosa, como formol, que atravessa os tempos, e permanece imune em épocas históricas, cheias de histórias pra contar.


The end

Dúvida

Coloco meu coração em tuas mãos,
sofro os perjúrios do amor,
você me toma e me ataca,
me joga aos pedaços no além...

Como cacos, vou buscando meus pedaços,
como a lagartixa sem o rabinho,
vou me mexendo e revivendo...
na dúvida questiono,
o porquê dos pedaços...
porque não inteira?

A dúvida responde:
não te quero inteira, te quero aos pedaços...

The End

Flores negras

Em túmulos remanescentes, flores negras acampam em rostos deformados,
pupilas endurecidas floreiam os cadarços em volta dos caixões,
Na procissão dos mortos, flores escuras são enroladas em cordões negros..
Esparramam suas pétalas sobre caixões sem encaixes...

Mortos, como esqueletos ambulantes caem dos caixões, deixando a mostra, seus dedos azulados...
De seus lábios roxos com rachaduras secas, exalam  vontades abafadas, diminutas,
do seu corpo gelado, endurecido, jorra a inquietude esmorecida, mortificada...
Em seu semblante, lê-se memórias sem afetos,  esquecidas,
aflições e devaneios submergem junto ao corpo gélido, esquálido...


são os instantes...

do estupor
da penúria
da deflagração
dos pedaços
da descomunhão


Com a comunhão do infinito...
 
The  end

Fama

Fama, luxúria escorregadia dos sentidos, carregada de bolinhas de gude espalhadas numa multidão, sentada numa escada precária, prestes a ruir.

Com a mente debruçada num corpo esfarelado,
finco meus pés na lama da fama, escorregadia...


Canto do desespero e da solidão,
das dores congeladas,
arruinadas em convulsão,
como bosques choraminguentos
perdidos sem sua vegetação.


De sentidos vertebrados,
das emoções apagadas,
do ser em sua desunião,
patético, ergométrico...

Entre cortejos de falsos impérios,
desfila com luzes apagadas,
em audições emboloradas...


Hoje, no fashion week, grande desfile de seres rasurados,


lá fora: uma gritaria, o esbravejar de uma multidão,


são os cânticos perdidos da emoção?

Da maldição?
Você decide.


   The end