quarta-feira, 27 de junho de 2012

Luzes apagadas




Vejo fileiras de cadeiras em cima das  mesas,

um  galo embalsamado...

e vagueio, imersa, em meus sentimentos vazios...

O piscar da noite, com um sutil sorriso da lua,

dão o tom de bocejos da solidão,

da  melodia inacabada...



o dia reclama da noite

hei, voce aí, quero o meu avesso!

e a noite desce... implacável!

deitando sem rubores,  em cima do dia,

cavalgando, como velhos amantes,

E aí... geram o amanhecer



Meninas da noite se despem de resíduos mornos de noites impuras,

corpos trêmulos trepidam em ruas embargadas

a garoa fina escoa , derretendo seus cabelos em purpurinas




O sol vinga o massacre da noite

o dia  descoberto acontece em sua realeza

e os amantes amam, amam, amam...

The end

terça-feira, 26 de junho de 2012

Patologias





Como pianos mudos, sem calda
em melodias, sem notas musicais,
são cantos  da ansiedade
plantados na terra da desilusão

É a Ave Maria soturna...

de órfãos da solidão

que se  esbarram em  águas vermelhas
em mortalhas sem sepultos

buscam sua identidade em brejos

como sapos revestidos de musgos com seus olhos esbugalhados

vivem no  isolamento de  seus castelos de gelos em fumaça,

são os restos mortais que salvam a solidão humana


de  gritos revestidos em doces  murmúrios...


 

The end

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Meu encontro com o Senhor Bopprê



Na França Medieval,
encantada sempre com as letras,
não via a hora de me encontrar com aquele velhinho,

de barbas brancas, sábio condutor das palavras

Líamos à tarde, velhos livros e autores clássicos

Me encantava com sua sabedoria e sua rabujice

Fazia-me deleitar em versos, saboreando o chá de frutas com canela

dizia-me, leia!

e eu ria,

e ele, categórico,

Leia! leia!

Um dia, após a  sua ausencia

fiquei o dia inteiro rasgando meu  intelecto preguiçoso

de repente, ouvi Ave Maria de Brahms

peguei a caneta e fiz uma enxurrada de versos

molhados com a goteira que caia sobre os meus papéis...

vi e ouvi, céus  e infinitos...

mergulhei num universo com muitos versos

e tatei a poeira dos livros

sentindo a textura de sua grafia

emsaboei meus sentidos de bebidas doces de Baudelaire

cai na gosma grudenta de Chateaubriand

aliciei Proust em minha cadeira, colocando-o em minha cama

senti os vapores voluptuosos de Madame Bovary

e esvaziei meus sentidos com a loucura charmosa de Camile Claudel


Um outro dia

Ressurge Senhor Bopprê,

e me questiona, o porquê de tanta bagunça, estardalhaço em minha casa

Falei a ele, estou limpando a poeira do intelecto,

e, ele respondeu

Nada disso é necessário,

a sabedoria é serena e mansa e o vulcão só aparece com a morte

nadas em fogueiras de águas,

o conhecimento é a simplicidade da vadiagem...

The end

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Comunhão com a simplicidade

  (Em homenagem a Leticia Will)
 
Vejo sempre você na janela

olhando o jardim e dando beijos às rosas

todos te chamam de louco

mas loucos são eles que não sentem o cheiro das rosas

e não sabem beijar

Sempre imploro seu olhar,

límpido, com os olhos marejados

transpirando coração e coragem -

daqueles que ainda não perderam o viço da alma - ,

e ainda sabe rezar

comungo com suas lágrimas

e com seu doce vazio

que não esqueceu ainda o sentir

que vagueia no sentimento,

como o beijo da borboleta,

que faz cócegas nas flores

e faz sorrir o dia...

The end

terça-feira, 12 de junho de 2012

Reflexões numa academia



Ah... que saudades,

do tempo em que não havia necessidade de tanta malhação.

Entrando pela primeira vez, numa Academia, me defronto com aparelhos monstruosos, ficando com medo de ser engolida por eles, associando aos aparelhos de hospitais,  onde se faz ultrasom,  dectetando massa óssea, etc...

A impressão que fica, um filme de ficção, com uma tecnologia gritante, onde os humanos ficam à mercê desses aparelhos, e eles, os aparelhos, riem  às escondidas, com o canto da boca, tirando um sarrinho da fragilidade orgânica dos humanos.

Conclusão, me sinto uma estranha no ninho, um peixe fora d'água.
Mas vamos lá...

Assustada, faço a minha primeira aula, olho ao redor e vejo, músculos em desfiles, arre! cada músculo! enormes, crescidos, avantajados, e eu, olhando para os meus, mirradinhos, pequeninos; me assusto.

Uma música ensurdecedora, as pessoas não se olham, só malham, dando extrema atenção para os seus músculos, só existem eles em pauta...não vejo olhares em afetividades, só massas musculares...

Tento me aproximar e vejo distâncias enormes, entre o corpo e a alma, uma preocupação excessiva com o amontoar dos músculos...e vamos lá, é um, é dois, é três; e o compasso continua,  e manda bala!


Vejo pessoas com garrafinhas d'água, suadas, cansadas  e as observo, com seus rostos avermelhados em olhares distantes...

Um sentimento de estética exarcebado, uma preocupação com o futuro do corpo, um passeio em músculos em ebulição. Uma pausa para a água em uma atitude dispersa.

Uma febre em academias, uma preocupação com o corpo, em solidões enevoadas.

Uma despedida, em saudades; um grito no escuro, um pisar em dispersão.

É a vez dos músculos! Por favor, deixe-me entrar, grita a menina consciência-corporal, e os músculos respondem, não, agora não, já foi a sua vez...


The end