quinta-feira, 26 de abril de 2012

Da menina que virou bicho




Cadê o gato?

o rato comeu..,.

cadê o rato?

voou pela janela, com os sonhos de menina


"Perdi, antes de nascer, o meu castelo antigo".

Só quando deslizo em lamas de ouro,

me esfria a saudade do céu azul com nuvens de cordeirinhos


do outro lado do muro,

Terezinha de Jesus canta em dueto com a menina de ovos de ouro:

A canção da cigana, do boi da cara preta

Na escola maculada, a menina desaprende o verbo e leva chicotadas

de megeras da alfabetização.


Entre risos e choros a menina aquece seus tormentos


À noite, abafa seus sonhos com cobertores pesados, fétidos,


Seus cachos encaracolados são cortados por tesouras gigantes de aço preto


no brejo, aproxima-se de um sapo... ao beijá-lo, o sapo vira jacaré e a engole...


A tragédia do primeiro ato se encerra, e a  a cortina se fecha,


pelos começam a grudar em seus devaneios


seus pés crescem e se petrificam


seus olhos se congelam,


e seu rosto vira uma máscara de ferro

 

o horizonte é cortado por vértices afiadas,

a menina se debruça em  névoa molhada,

seus ídolos caem em mortalhas

nesse calvário, sem nobreza,

o  enterro da menina acontece num dia de chuva...

 


                                                                  The end

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Gotas de sangue



Gotas de sangue

escorrem da melancolia,

do dia que se foi,

do frescor adiado,

do mel que virou melado



retiro-me do ar!

para o aconchego

de ninhos sem ninhadas

de passarelas amargas,

sem brilhos, opacas.



Como gotas de licores afrodisíacos

esvaindo de buracos sagrados

jogo a minha emoção

em águas de bacias mornas


Estou morrendo...
 
fantasio a morte em cenas impróprias para menores de 80 anos


subo no monte de Narayama

bucar a dignidade na balada de Kurosawa

despenco no Weekend à Francesa, de Godard

me despejo nos cânticos de Maria Callas


vejo a minha lucidez endividada

com amanhãs inexistes, em fumaças sujas, disformes,

como espectros atormentados


Estou em ruínas


Me enrolo embaixo de cobertores abafados,


sigo em caminhos, a túmulos sem fim...



                                                           The end

terça-feira, 17 de abril de 2012

Prazeres permitidos



Bem perto de ti, meu prazer reacende,
como uma tocha ardendo num escuro ardiloso
clamando desejos pervertidos,

braços estendidos, mãos buscando afagos,
no simulacro das sensações
encontro nós obscuros, emaranhados,

na fluência das emoções
flechas venenosas espalham seu fogo
em carnes penduradas,

Entre fúrias e sons! bocas em babas!
faíscas ferem o ar tenso, em gozo...

Nessa morada giratória de soluços devassos...
Tateando areias movediças,
Saio escorregadia, quase ilesa,
deslizando na ladeira do prazer...


                                                              The end

Cantiga rosnada



Eu não te dou o meu sorriso

Te dou a minha mão, o meu corpo,

mas meu sorriso eu levo comigo,

no túmulo, sem rédeas,

como o rosnado de cães


grrrgrrrrrrrrrrrrr rrrrrrrrr
grrgrgrrgr rrr grrr balbúrdia, regrf
rrr rrr sbgr
num ghr grrgrrgrrgr


minhas mãos não alcançam seu corpo,
meus braços encurtaram, estão imobilizados

Hostilizo sua presença
Seus clamores são em vão

Vá, cambalear nas ruas

Caia! quero ver os cães ladrarem sua presença,
lamberem os seus beiços

Rumino seu desencanto
Como fontes de planícies sem luminosidade

Hoje eu não quero ser amada!
Hoje eu quero pisar no seu corpo,
Hoje, eu sou o momento.



                                                              The End