terça-feira, 27 de outubro de 2015

Fome



do peito, do leito, 
do pão de Cristo

da sardinha enlatada
dos mordiscos na pele suja

ai de mim
famigerada
deito com os cachorros 
em calçadas
sem aproximação
lambendo feridas
de um tesão recriminado
acuado

engulo o azedume
do morango ácido
e sinto
a borracha queimada
embaixo do travesseiro

e os dias acontecem em fumaças pretas...


The End

O universo é um e-mail



Seja bem-vindo
noites às  escuras

o dia está amarelando

etiquetas  arrancadas
o manequim
ficou de pé e falou

estrelinhas decadentes
e você dorme
em caixinhas de fósforos

serviçal dos costumes
bate de porta em porta
e ninguém atende

coloca pisca-pisca em sua vida 
e a placa vende-se


The end

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Toque



você passa longe
e olha assustado
o outro

tomadas em circuitos
não toleram a junção

cortiços em favelas
mãos desunidas

um olho fecha
o outro não enxerga

encostado na parede
se balança
como autista

o homem se torna anão
dos seus desafetos



The End

Paralisia


não consigo levantar
nem olhar

o mundo ruiu
ficou só miúdos
de frangos de pestanas
de dentes quebrados
que não conseguem
mais sorrir

desencorajado destino
destituído de sua razão
arrasta e balança
sua cabeça com não

Nulidades negativas
gente miúda
sofrida
maltratada

o tônus da pele amarelou
e você desfiou
mil conversinhas

não consigo me levantar
minhas pálpebras caíram

dentro um gelo só
e a imposição
de ser
foi rastreada 
por sobreviventes


The End

terça-feira, 13 de outubro de 2015

           Meu corpo


espreguiça-se entre outros
generoso, atrevido
solta-se
e desgarra do estofo

guarda folias e enzimas
dentro da barriga

movimenta e esbarra em outros
silhueta sinuosa

lindo
magnífico
da vida
da busca
da precisão

outrora encostado como almofada no chão
como mobília adesiva
fazendo contraponto na escuridão

defumado
faz as vezes do peru assado

encantado
dança a valsa do adeus


                   the end

Palavras

    



em desajustes
provocam
ou adormecem
em colos sujos

vitrines embaçadas
e não se ouve nenhum ruído

as palavras caladas
do suicida    
da moça atirada da janela

só sussurros na escuridão
como fumaças em ventanias

Solo
Solicitude
Socorro   

E a palavra continua num vão   



The End

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Pecado


lágrimas internas não calam
é o fim

não existe fim
fantasias reinam

viver no escorregadio
da cobiça da monja dos costumes
é aliciador

caminhos sonolentos seviciam
carícias em areias movediças

Fim, não matarás
Monte das Oliveiras
Só Cristo!

Desejo
Acaricie seu ventre


the end