terça-feira, 31 de julho de 2012

Crise de identidade



Vejo um mendigo-monge, sentado na calçada, com um cobertor colorido,

com um olhar distante em um semblante sereno...

olha os transeuntes e a vida entre a apatia e a cordialidade.


João, franzino e gago joga a bola fora da trave e perde o gol


Dora, lê o Príncipe de Maquiavel e ajeita seus cachos,




Maquiamos nossos semblantes com lápis de cera, e nos transformamos em homens de plásticos


 
 
Identidade??? por onde andas, mulher?

Protagonista, em papéis secundários, sucumbe...

Maldição do livre arbítrio!!!

Dores são consumidas em anestésicos de plásticos

Passamos a borracha nas escrivaninhas do amor e esquecemos o sabor das cerejas

Abusos

Um pacto de silêncio...

Fraturamos nossas peles em prol do pós moderno

Indecorosos, na procissão do viver, resguardamos falsas imagens pelo medo da vizinhança

Arrotamos uma cultura em pruridos,


dormimos em caixas de papelão, sentindo o frio nas costas e os pés gelados.


 
The end








quarta-feira, 25 de julho de 2012

Finitude



Maldita!

Pelos deuses!!!

da vida subtraída, esvaída

Em sua surdez...


Nãooo!!! Pela não louvação à vida!



E o coro em uníssono lamenta

"Ai de nós, sem conta, são nossos sofrimentos

Despojada dos seus filhos, a natureza humana perece

Zeus! envia-nos tua proteção!

Maldita Finitude
Queremos a atemporalidade e o Renascer!! "


Minhas condolências, meu pesar por você, sua finitude!

       "Não sou nada, nunca serei nada...."

                 dá-lhe Fernando!!!


Fortuita, Maldita!

Eu não a quero mais!
Suma, desapareça!

Indesejada, mal amada,
Vives na penúria de desgostos alheios...
te odeio!

Libertina, Indecorosa,
Irresponsável, Maldita!

Apelas às incongruências sanguinárias,

Eu não a quero mais em meu jardim de rosas
coração de bronze, braços de ferro, lágrimas de aço!

Esconde-se no pseudo, no pueril escabroso
Despede-se de todos com um sorriso cínico, fetichista

Nazista!

Impõe-se sem louvor,
com horror!
aos apelos indecorosos
e indesejosos da vida!

Não me venham com conversinhas,

de aqui, agora!  Fora!!!!

Fonte amarga do desespero humano!


Não me venham com conversinhas


Eu quero o abandono no ad eternum

Envergar-me na sua luxúria e vigor,

saborear os venenos de sua eternidade!

Sem essa de saudades! Chega!!!




Aqui, Agora, Fora!!!

com suas limitações, limites em finitudes,

Quero o futuro
ainda que em pesares

não quero o passado partido, ferido, em cacos



"Tenho  frio da vida. Tudo é caves húmidas e catacumbas sem luz na minha existência.

Qualquer coisa em mim pede eternamente compaixão..

Só no ar morto dos quartos fechados respiro a normalidade da minha vida".



The end

terça-feira, 17 de julho de 2012

Madrugada



É na madrugada

que o galo desavergonhado solta seu canto

os amantes descarados soltam seus gemidos

num relaxamento sem vitórias,

numa mansidão em maldição

Há um toque de leveza e sublimação



É na madrugada


que o frescor se contata com a cordialidade


Sensações se descobrem

e vão ao encontro de abraços...



Sentimentos escondidos deslancham e marcham

do fúnebre ao sutil

saindo do cotidiano purulento,


onde são eliminados os jogos de braços de ferro

Soçobrando na mais alta sensibilidade

como uma bruma resvalada no mais puro sentimento,

Há um silenciar de ruídos...

 


The end





Coito em feridas



Sim, abre as pernas

fecha as pernas

e o animal segue sua marcha

sem interromper o coito...


sem descrição, em maldição


sem hinos femininos

escorregam  no vazio sebento

deixando em ruínas o rebento


sangrando sem parar


corre, corre Mariazinha

vem, vem cobrir seu corpo


descoberto pelo animal


em cacos, infrutífero

varando a sala, os quartos, a varanda


os corpos estendidos, amuados,


sem vida, sem combinações


sem futuras condições

lá vão eles, cacos, fragmentos,

pedaços de ilusão...

esparramados na terra.


 
The end

terça-feira, 10 de julho de 2012

Doença



Corolário de emoções débeis

Peles rasgadas em comoções desfeitas

Santos descobertos, nus, disformes

Santuários sem purpurinas

vestes cambaleando em corpos desfigurados



Ei, você aí!

não fuja do assunto!

doença é foda!


É a dependência do outro,

principalmente desses sanguinários da saúde,

que rastreiam a doença em frascos venenosos

e ignoram seu mal estar...



é ludibriar a razão,

em queixumes sem retorno


Aceitem e deixem-se morrer...

Porque a Morte é a idolatria da Vida!

 


                                                                              The end














quarta-feira, 4 de julho de 2012

Seca

 
Como a pele seca do homem do campo

como os sentimentos esgotados de amar...

das pernas esfoladas de tanto dar,

da ferida com casca que não para de sangrar

ai, chega de rimas, e vamos ao tema,

seca, do Nordeste

ah... por favor, não me venham com geografias e sociologias

eu quero a chuva que molha os sentidos...

ah.. .os sentidos! ah... os sentidos!

bah!

Cansei da sociologia, da patologia

da burocracia, do sofrimento e tormentos!

Quero banhar a minha seca em braços alheios

disseminar meu corpo em turbilhões calorosos

molhar meus sentidos em orgasmos em espasmos

garantir a minha sobrevivência sem insolvência, sem carência,

perder o juízo e esfolar a minha alma!

mergulhar de cabeça em lençóis sujos!

cuspir o escarro que me asfixia!

cansada de subidas e descidas,

sem fôlego, rogo ao meu mentor Fernando Pessoa,

e ele responde...

"Nunca penses no que vais fazer. Não o faças.
Vive a tua vida. Não sejas vivido por ela".

Desço as alamedas dos prazeres,

rolo nas escadas, em sangue vivo!

e grito no pelourinho!

Estou viva!

E da seca, se fez o sangue.

The end

Fezes

 
De odor mal cheiroso

como a vingança descabida

como o sonho desfeito

como o príncipe decapitado

Ah... não me venham com dogmas

e lição de moral!

Por favor, me deixem existir!

Sim, acredito no amor...

Esse velhaco maltrapilho, ignobil e desajeitado,

esse rampeiro que vive dando ar de grandiosidades!

Ah... Infeliz!

Sim, o amor que passa...

como fezes amanhecidas

putrefatas, cheias de vermes

como o punhal cheio de sangue,

de amantes traídos

como corpos estendidos, que escorrem sangue

Esquecidos das memórias de Iansã!

É nos tambores de Iansã,

que consigo expurgar o mau cheiro dos esgostos

enxotar o ranço de amores esmaecidos

como as misérias de um homem embalsamado pelo tédio,

Enterro sonhos inúteis em chuvas de rosas de sangue,

e faço estiar toda a dor!


The end