terça-feira, 29 de outubro de 2013

Mistérios, Condolências & Bobagens


lições antropofágicas:
comam seus amigos devastados como florestas virgens
seus sabores, 
manhãs mais firmes, menos enevoadas

honrar pai e mãe
caminhar na praia
curam males de Alzheimer
menos mal

ouça o vento
cochichar segredos

americanos confundem faroestes com cangaceiros?

precisam comer carne de bode e recuperar 
sua lucidez

José traiu Melamina
fim de linha
M cortou o pulso de suas bonecas...

fogão de lenha
bule fervendo
café fresco, fraco e doce
coitos em simplicidades

não se maltratem
honrem seu porte
caminhar em brumas
seu prumo virá

Eu sou
Raul Seixas

últimas notícias
lições de harmonia, filme imperdível da mostra
Scorsese tenta entender Glauber Rocha e não consegue.



The End

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Falta de assunto



todo mundo quer ser amado
todo mundo quer aplauso
todo mundo quer ter dinheiro, poder

um vazio te cumprimenta
e você sai correndo, como que vendo um fantasma
uma ninhada de pássaros visita sua janela
e você os ignora

enrolamos sonhos em cataplasmas
que apodrecem, em maus cheiros

não conseguimos nos enxergar de frente
há uma lápide escura, uma sombra que te persegue

um arranhão em sua psique que te faz confusa
amanhece em painéis escuros
clamando um dia em sonhos e magias

é o futuro humano?
cadê esse humano? pueril, primitivo?
o gato comeu?
cadê o gato?
voou bem longe com os sonhos da menina

come com garfo, gafanhotos crus
belisca olhares enevoados, aguardando sorrisos,

é a lei do cativeiro
é a prisão perpétua

somos foragidos
desencantados
entendiados
mal amados?
aguardando um futuro melhor...
a empresa vivo, como todas as empresas institucionais,
mais uma vez, me sacaneou...



The End

Sensações




Respiração
ofegante, descompassada...

o tic-tac do relógio 
e um sofá sujo, rasgado, repousa no canto da sala.

cadê Maria, José e João?
todos virão?

Não, já foram

Cadê José?
seu boné repousa no bico da cadeira

no centro da sala
um tapete vermelho desbotado

um cheiro de bolor atravessa o porão...
fileiras de livros em estantes com teias de aranha
adormecem nesse nevoeiro de letras, histórias e emoções

as letras viram do avesso esse terreno doloroso, infértil

o sórdido insinua
as letras limpam o sótão escuro
a bruma se expande

Arthur, rei absolutista, perde o poder
Joaninha perde o namorado e cai do pedestal
o mundo de Fabíola desmorona

e a respiração se acalma...

queijo branco ajuda combater o colesterol




The End

Recolhimento



eu não gosto do que vejo.
o que deve comandar a estrutura não é o desenho, é a cor.

liberdade sem solidão
não tem chão
panos úmidos não seguram fogos de artifícios

Recue
se dê um carinho

hoje só encontrei pessoas feias
despovoadas de ternuras

introspecção alimenta o vazio
melhor assim...
poeiras contaminadas não levam a lugar algum

lavo meus pés em bacia celestial
sofro o batismo

purificação é ócio

carne em decomposição
dor é libertação



The End

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Cativeiro




Estou sozinha no meu cativeiro de ilusões.

rebusco ternuras

e só encontro
pacotes, embrulhos
tudo encaixotado

uma cama
um criado mudo
um vaso sem flores

encosto minha cabeça num quadro de Renoir
e encontro o meu jeito

não sou escolhida
saio livre do cativeiro



The End

Melodia inacabada



Criança
esboço

Orgia
dor

a noite é longa
os tormentos são eternos

homens e coisas
é fácil morrer

carne
substância

cabaret
vida

melancolia é seiva
arte é amor

eu agradeço, criança, mas não é assim que funciona.


The End

Culpa



Eu atirei no xerife.
Mas não matei o delegado.
Tudo que fiz foi em legítima defesa.

Tudo é tão pequenino e vil!
meditação transcendental, bah!
Eu vou correr com os porcos

louvar Maria Callas!

Esvaziar meus bolsos de falsas moedas
vomitar a rapadura azeda, dada aos pássaros
Vou caminhar com as estrelas decadentes

Chega de vieses infiéis
Chega de em que nada houvesse
É só um vácuo

Vamos vadiar nos buracos da fé
patrocinar remendos em cascas grossas
a grosseria é a mãe das irmandades

Culpado!


The End