segunda-feira, 1 de novembro de 2010

chuvas com lágrimas

melancolicamente olho vidraças respingadas...
vejo a garoa choramingando....desencantada
ouço Chopin perdido em seus lamentos no piano
percorro meu corpo com apelos em diversos planos

o tempo sem cessar emite sons em tons plangentes
lacrimeja em águas glamourosas com tons bucolicosos,
roçando nos sentidos, desponta apertos gloriosos,
devaneios incontidos de encontros amorosos...

visualizo o horizonte num chorar clamante...
planícies submersas aprisionadas em sons arfantes,
choupanas deflagradas naufragando em tons cantantes,
cânticos chorosos, lamentosos, chamantes, delirantes.....

águas abundantes pranteiam incontidamente
sorvendo prantos enterrados em tumbas ressequidas,
de amores soterrados em tempos imemoráveis
da renascença, da antiguidade, de afetos implacáveis

Águas com lágrimas, chuvas com almas depuradas
desembocadas num oceano gigantesco azul- cintilante
aguardando sua estiagem, em fervores incontidos
numa procissão de seres em clamores palpitantes!!

ritos de águas armazenados em tons sepulcrais,
desaguados em naturezas prósperas descomunais,
regando cânticos, seres floridos em suas sensações,
em fortes abraços, conjuminados em suas várias uniões..

desejos contidos soterrados em jazigos piramidais
aprisionados pela terra umedecida em águas celestiais,
se libertam como o silencio murmurante em ritos fraternais,
nutrindo sons infinitos de conjurações míticas universais.


The end

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Fantasmas da noite

Nos latejos da noite, fantasmas perpassam minha memória...
Cubro minha cabeça tentando sufocar-me...
Os ruídos da rua, com suas motos e automóveis barulhentos me reconduzem à aspereza da vida.

Me desespero, me reconduzo.


Os fantasmas da noite lentamente se desfiguram
e vão se transformando em personagens na minha psique...
nas rudezas do seu caminhar, ensaboam-se na lama, com seus pés sujos,
afundando em um lôdo quase sem regresso...

Um medo taquicardíaco me invade;

e busco uma fuga para o meu ser.

Os fantasmas me invadem e caminhamos juntos,
na madrugada, buscando novos rostos transfigurados para compactuar
com nossos sentindos,
Nessa doce cumplicidade, a madrugada com suas luzinhas coloridas,
dança no seu cabaret de ilusões e sonhos.

Sonho com a atemporalidade e o renascer.

Movo-me.Locomovo-me entre as agruras do tempo, tentando aquietar meu coração.
Decepo minha alma, entre monstros cortejantes
e volto para o regalo dos desejos e das inquietações.

Ah! Meus nervos latejam novamente...

me desgarro do passado, por um instante...

O novo se descortina, esbarrado pelos muros e escombros do passado...
Me regozijo com o seu passar e lentamente vou aspirando cada sopro de vida,
esgarniçado, escarniçado...

Com os olhos vermelhos, injetados, busco um soro para a poeira da solidão...


Feridas e cicatrizes desfilam ao som de tambores de fanfarras juvenis...
veias entupidas naufragam num mar de esperas e incertezas, aguardando sua travessia.

Respiro o ar trêmulo da noite, me apaziguando com cada clarão que se anuncia...


- os fantasmas em uníssono, questionam...são as luzes da ribalta?

Perpasso... no ritual; na santidade me resguardo, ansiando o sinal da vitória;
como numa longa estrada da terra vermelha, vou tramitando, buscando sinais de vida;

Trêmula, vanglorio-me entre o rastejar e o caminhar  coxo...

me espreguiço e num tombo desolador, caio da cama.

Desperto para o novo dia anunciador, da vitória ou da derrota - como tipos esquálidos que atravessam o túnel escuro, sem pestanejar.

São os delírios mirabolantes do destino que desatinam sempre à mercê de chuvas e trovoadas...


                              

The end

sábado, 11 de setembro de 2010

Nada

Me apaixono pelo nada e me escravizo...
Nada existe...
Me visto, me desnudo, me recomponho e não vejo nada....
Respiro
cabelos desgrenhados  roçam    meu rosto
Atravesso  o túnel da respiração e sinto meus dedos gelados percorrerem  meu corpo...

Respiro......
Corro atrás das minhas sensações e revejo minhas emoções....
Me esvazio. Me acoberto. Me protejo.....
Enxergo nebulosidades....
Vejo águas turvas
Uma  lua gigante soberba me persegue....
Ouço latidos ao longe....
Uma natureza gigantesca me acoberta de delírios e alucinações 

Minha inspiração como um raiozinho de sol emerge tímida, ansiosa ......
Ela  vai  ao encontro de  sua mãe-maior, a lua, que com sua luminosidade  infinita clareia  nuvens da escuridão que perpassam meu rosto
Anseio pétalas de orvalho  para cobrir minha respiração ofegante
Vejo seres perdidos na apatia e na solidão
Recomeço minha lição de casa....
C om minhas asas pequenas alço voos,  pulo numa árvore e me  penduro em seus galhos ...
Olho  o horizonte e sinto seu ar gélido, cheio de fermento....
Cócegas internas agilizam minhas sensações desvanecidas...

Me amparo e me resguardo.....
O infinito me cobre e fantasio a realidade....
Cubro-a  com lantejoulas e pedrinhas de rubi....
Emerjo dessa  fecundidade e  atravesso túneis escuros, conseguindo sair do outro lado da rua
Me balanço no urbano e  pego um trenzinho elétrico  me lançando lá de cima .....
Sucumbo e  deslancho  na grama verde - solitária....

O sol me cobre e  encobre meus devaneios....
Relincho as adversidades e me recomponho..
Agilizo verdades e não consigo me desvencilhar da solidão...
Ela cola-se ao meu ser,  tento descolar e uma parte do meu ser é arrancada....
Viro metade...
Percorro as avenidas  da vida com a metade do meu ser

Colho flores do campo e vejo meu desfolhar, como pétalas caídas, despedaçadas....
Como trigos no campo  germino ........  o desamparo e a desesperança...
Descalça, desnuda, viajo no túnel das desmesurações...
Desencantada encontro mendigos com vira-latas. Olho em seus olhos e me vejo, me enxergo neles........
 Escorrego, quebro a perna. Viro coruja. Me encho de coragem e me travisto de urubu..
Percorro carniças humanas e nenhuma me atrai.  Desvendo  seus   ancestrais entre mistérios e alucinações....
 Vejo fomes desenfreadas, rostos com cicatrizes, vidas esbofeteadas,  cruzadas, rechaçadas, abençoadas.  Nada é nada.
 Fantasmas da solidão, corações inquietos,  cavalgam sem parar...
Me reaproximo de mim e me assusto....carcarejo e começo a levitar.....
Dou um grito de aleluia e solto  essa mulher devota, calhorda, barulhenta, sedenta, rabugenta..

Sinalizo..
Amparo as paredes caídas e destelho meu ser...Chuvas caem, molham minha pele machucada...
Reviro meu bau interno e vejo figurinhas antigas, repetidas. Não consigo trocar, estão ultrapassadas...
Permuto  pinheiros por ervas...me acalento num doce  amanhecer.
Transfiguro a realidade e fantasio as aflições...
As correntes se rompem, os  cadarços estão esgarçados...Rompo as correntes rompidas....

Existem sentimentos demais aqui...
Busco   alguém para brincar... não encontro nada e ninguém....me amparo na  dor  e me distraio nesse  vazio.......  submersa.....
Com  a dor balançando num doce balançar.....
Entre afetos rompidos e açoites do tempo
 faço esse doce  nenem  ninar...



  The end






quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Seres do avesso

Você tem a necessidade de inverter a ordem das coisas
talvez porque não encontre mais prazer em ver as coisas como elas são
só que essa ordem obtusa é reclusa
e não encontra eco em nenhuma relação

Desvendo sonhos amarrotados, e
voce insiste em rasgar flores
voce confunde  amores com dores
flores não são papéis que podem se rasgar
e seres são feitos para amar

é tristeza? é rebeldia? é loucura? não sei....

É difícil sentar numa cadeira virada, tombada...
suas pernas me machucam, me ferem...
É difícil vestir uma blusa rasgada, esfarrapada.....
ela não vai cobrir suas feridas, nem agasalhar seu frio, seu brio....

com a boca amordaçada, meu ser se inverte, se submete
atolado na inocencia, submerge....
num rio de carencia de nascença
de verdades sem procedencia


te  falo de amor e faço estrofes  rimar
mas sinto que atrás dessas versos
existem sentimentos adversos
de origem desconhecida
que não consigo controlar

e atrás de cada frase de amor, existem turbilhões
de senões, erros, inaceitações,
 inadmissões, opiniões e  trovões....
algumas feridas  da vida esvaída
que não consigo lidar,
é a incapacidade de amar......

tento derrubar paredes com a pontinha do dedo....
amputo minha unha e corro atrás do vento
durmo ao relento
esfolo minha pele e começa a sangrar
quebro vasos com flores
e a água começa a esparramar

entre horrores e dores
mergulho no rio da incerteza, e
vejo o eixo da vida se alterar
entre barrancos amarronzados
e insetos coloridos
docemente me deixo afogar......

sou socorrida e abastecida....
por grandes mestres da vida
de poetas cantantes, falantes, pulsantes
e começo a depurar....


acordo assustada, agitada
desses entrevero amoroso



sofro martírios desse amor impiedoso
entre mistérios e gozos gasosos
tiro um cochilo gostoso
e desperto prá vida encantada,
da vida abençoada
nas suas diferentes formas de amar.....


                                             The end

As chaves da casa



Me despeço de árvores secas, sem frutos...
De frutas apodrecidas jogadas ao lixo
de amigos maledicentes
de falsos torneios de futebol
dos amores em vão.
Vou buscar graciosidade em têmporas rosadas
 de bebês solitários.
Desabotoo o botão da blusa rasgada
e deslizo no escorregador do parque infantil.
Ouço soluços ao longe.
Caminho desajeitadamente entre prantos
e luzes da ribalta.
Tento escalar montanhas 
e desfaleço com açoites do tempo,
a  neblina da madrugada me impede de enxergar.
Meu corpo está enxertado de lâmpadas queimadas.
Refaço a lição de casa e afirmo: dois mais dois,
são cinco.
Me desfaço de professores e ensinamentos antigos,
entro em pirâmides egípcias 
e ensaio peças de figuras da literatura clássica antiga.
Me apodero dos fragmentos de gênios atormentados,
sonho com Van Gogh
e decepo meu desamparo inútil.
Sou levada  Grécia pelas mãos de Zeus e Afrodite,
sou encurralada no cordão carnavalesco da alegria
e rebolo desajeitadamente.
Vou passear na antiguidade
e sou levada ao pelourinho,
entro no santuário e me extirpo de toda a punição
loucos com baba, seres sem identidade
andarilhos são arrastados em  feiras de inutilidades,
tento permutar feijão por rosários,
sou apunhalada por povos bárbaros e caio desfalecida.
Acordo em delírios,
gargalho e caio no chão.



The end

Regresso

À noite acontece o retorno....
Pernoito...
Um corredor soturno acolhe estátuas enfileiradas de bronze
soldados com armaduras gigantes...
como   um fantasma oculto,
vislumbro tons melancólicos e sepulcrais


Atravesso o corredor e saio do outro lado da rua....

Há claridade. O sol está chamuscando...

Me defronto com a estátua de David de Michelangelo
me enterneço e vejo uma procissão de seres em devoção
veias latejantes saem de suas coxas e de suas mãos....
é o mármore transformado em vida....
enxergo marcas e vísceras....
contemplo-a....
passo a mão em meu rosto e sinto minha pele macia e quente.....
e penso...nos corações inquietos e pulsantes....
Há pulsação lá fora....

Caminho entre jardins verdejantes.....e vejo três pássaros azuis voando juntos....
Tento captar esse instante...
Do outro lado da rua, vejo árvores tristes e secas...
Penso em tolices e nos tolos..

arremesso uma bola ao longe....

no parque começa a escurecer...
um nevoeiro se aproxima e começo a congelar....
vejo velejadores guardando seus barcos....

metrópoles agitadas dão furos de reportagens....
sinto tremores internos....
penso nas idiosincrasias e incongruencias humanas...

atravesso a balsa....

lavo as cortinas sujas do meu quarto
assisto um filme em quarta dimensão
coloco um óculos colorido e me aposso da existência

choramingo...
fertilizo e me fortaleço, eliminando os nós de minha colcha rendada....
mentalizo a Índia e tomo um chá com amigos...
vejo o choramingar das árvores.....
Anoitece, as crianças voltam a dormir....
Limpo o quarto e faço a faxina da casa....
Espanto os mosquitos venenosos....
Fecho as janelas....
Tudo volta a adormecer......


                                       The   end