terça-feira, 28 de maio de 2013

Hoje, minha alma chorou




Saio do buraco, como tatu
olho dos lados,
não vejo ninguém

Corro...
bichos pretos, peludos, invadem o espaço
como maestro da noite
tento reger discordâncias

urro...
um batuque ao longe escoa seu desespero
uma orgia de sensações, uma dança se apossa de mim

despenco...
um corrimento sai do meu corpo,
fazendo brotar um feto semimorto, se debatendo,
ainda existe vida...

ah, que vontade de rasgar esse redemoinho
furar esse papel com os dedos, abrir meu corpo trêmulo, deixando à mostra essa orgia de sensações

O Universo rasgado de estrelas, num céu escuro, sorri pra mim
um tambor giratório com índios agrupados em tochas de fogo se movimentam

Sou possuída por deusas

crianças mexicanas soltam seu canto em gemidos
vejo raízes fincadas na terra

uma menina
uma lágrima,
um pé encardido no chão
 
                                                                       The End

terça-feira, 14 de maio de 2013

Olha, vou te dizer uma coisa



Olha
não, não responda
só observa

Não
escuta
respeita o meu silêncio.

vivo em penumbras
é o que me apraz

não me queixo de você
eu sou você

uma coisa é só uma coisa
eu e você somos dois

rosas vencidas
florestas sem validades

e somos devastados, numa machadada só...

 
                                                                       The End

Enigmático



Beijo amor
Outro

Quem é você?
olha, eu realmente não sei

Chove
James está com uma capa de chuva
apreensivo

Jeremias sai do bar em direção ao carro
forte tempestade

Lydia entra no carro

Num bar, Francisco bate em Dora
Dois irmãos gêmeos se beijam

Um vaso de cristal cai da mesa
um gato é atropelado
um vestido de organza cai de uma janela

Muita algazarra na mesa do lado
todos bebem e falam alto.

um esquilinho é estuprado por um motoqueiro punk

duas mulheres dançam de rosto colado
taças de vinho colorem o espaço com fumaça

Ninguém consegue ouvir quase nada
Henry ou June?

É Marlene
Dietrich ou Souza?

Não sei.
                                                                          The End

A mulher na janela



Confusa, tenta correr atrás de sua essência, maculada talvez pela mulher inocente que quer se feliz, uma felicidade que não condiz com suas raízes, em chamamentos internos mais profundos. Chacoalha a poeira do cotidiano que entorpece os sentidos e tenta desanuviar seus sentimentos, lembrando de atos do passado, ensaboados pela doce liberdade que reluzia... Tenta recuperar esse frisson, pra desabotoar a coleira do enforcamento. Lembra de um aforisma de Nietzsche: "Alguém precisa ter caos em si mesmo para dar luz a uma estrela dançante". Essa frase devolve a sua antiga potência. Dorme profundamente agarrada a sua doce liberdade.