quarta-feira, 4 de julho de 2012

Seca

 
Como a pele seca do homem do campo

como os sentimentos esgotados de amar...

das pernas esfoladas de tanto dar,

da ferida com casca que não para de sangrar

ai, chega de rimas, e vamos ao tema,

seca, do Nordeste

ah... por favor, não me venham com geografias e sociologias

eu quero a chuva que molha os sentidos...

ah.. .os sentidos! ah... os sentidos!

bah!

Cansei da sociologia, da patologia

da burocracia, do sofrimento e tormentos!

Quero banhar a minha seca em braços alheios

disseminar meu corpo em turbilhões calorosos

molhar meus sentidos em orgasmos em espasmos

garantir a minha sobrevivência sem insolvência, sem carência,

perder o juízo e esfolar a minha alma!

mergulhar de cabeça em lençóis sujos!

cuspir o escarro que me asfixia!

cansada de subidas e descidas,

sem fôlego, rogo ao meu mentor Fernando Pessoa,

e ele responde...

"Nunca penses no que vais fazer. Não o faças.
Vive a tua vida. Não sejas vivido por ela".

Desço as alamedas dos prazeres,

rolo nas escadas, em sangue vivo!

e grito no pelourinho!

Estou viva!

E da seca, se fez o sangue.

The end

Nenhum comentário:

Postar um comentário