terça-feira, 21 de junho de 2011

Jabuticaba, pêssego e cereja.

Genoveva tinha pele de pêssego que contrastava com seus olhos de jabuticaba e uma boca sedutora que mais parecia cereja...
Quando  passava pela  rua, balançando suas ancas, com seus peitos empinados e suas pernas grossas chamava a atenção dos homens daquele lugarejo.
Dizia-se que seu  corpo exalava um cheiro de jasmim com cravo e canela deixava enlouquecidos homens da região.

Certo dia, certa tarde, parou no  boteco próximo um caminhoneiro, que deixara na boleia Filisminda, mulata distraída, que retocava as unhas com azul enquanto esperava seu homem achar um trago e um borracheiro.

Genoveva atravessou a rua, se sabendo na passarela.
tinha sentidoodor dos desejos conhecidos, mas o calor que lhe varou desta vez o seu pescoço, mostrou-lhe que naquele dia havia uma vontade forasteira visitando ancas e seios.

Aprumou-se o mais que pode, para rebolar ainda mais o desejo, de um olhar que ela não mirava, mas que sabia que partia de não mais que dez passadas, à sua esquerda e encostado no pneu do caminhão.

Entrou na casa defronte, bem debaixo de uma placa, onde se lia com tinta borrada, preta em fundo de cor amarela, escrita sem licença de Deus, talvez pelo próprio Diabo, traçadas sem precisão, com letras desacertadas do Destino malsinado, no anuncio que dizia:

“Conçertasse pneu de carga

Quem entrou a seguir, junto com o olhar do povo, foi o próprio caminhoneiro enquanto Filisminda mulata distraída lixava as unhas azuis.

Foi Zequinha que atendeu, marido de Genoveva, que sabia de pneu mais que qualquer estrada e menos da mulher que tinha, que o resto de toda a cidade.

O povo viu que saiu Zequinha, rebocando  um macaco forte para qualquer jamanta e chave para porca engrimpada, para roda de qualquer destino.

Deu os boa tardes para Filisminda, que pintava agora as pestanas, sem nada de responder.

Abaixou-se e  levantou o truck com doze bombadas contadas na alavanca do macaco.

O povo mirava calado.

Filisminda distraída.
Seu Zequinha trabalhando.

E o caminhoneiro cadê?

Foi preciso que o vento amainasse o sussurro das folhagens para que o povo percebesse que de dentro da casa, bem  debaixo da placa, de letras desacertadas, dois corpos se esfregavam com sofreguidão e volúpia.
Gritos, sussurros e gemidos vazavam daquele  espaço. Uma sombra  reproduzia, através da porta aberta a luta daqueles dois corpos em busca do prazer....

                     Pareciam dois lutadores atracados em um pequeno pequeno ring, ausentes de toda a platéia
                     As  acrobacias eram tantas que as paredes pareciam tremer e se compactuar com aquele jogo de sedução e prazer.
Corpos molhados, umedecidos,clamando os sentidos, dedos perscrutadores percorriam seus corpos buscando zonas proibidas, tateando,tocando,massageando, enozando línguas molhadas, sufocando respirações ofegantes, mais  suspiros e mais gemidos  se ouvia do  local.......
Havia o uivar de um lobo?
Havia o miar de gata?
O povo disse que sim.
Mas o que Filisminda ouvia eram as seis marretadas que Zequinha aplicava na chave para  cada uma das doze porcas do pneu.
Súbito fez-se o silencio.
Zequinha baixou o truck. Deu por fim o serviço.
O caminhoneiro apareceu debaixo da placa amarela.
Ajeitou ainda a calça. Limpou os beiços na manga.
Olhou para o povo calado.
Encostou-se à porta da viatura.
Filisminda distraída escovava o cabelo que descia até o ombro.
Mirou o caminhoneiro bem no olho do Zequinha que ainda tinha a marreta pendurada pela mão.
-Quanto é, disse ele, metendo a mão no bolso para mostrar que havia um  cabo de treisoitão.

Diz o povo que o vento assoprou.
Foi por isso que a arara que voou?

Ou porque a Genoveva, descabelada, mordida, arranhada, com parte da veste rasgada e cara de fêmea possuída,  assomou justo na porta, debaixo da mesma placa com letras desacertadas?

O povo não sabe dizer o que Zequinha respondeu.

Porque do alto da janela, da porta onde se encostara, zuniu muito certeira ao pescoço do caminhoneiro, a navalha de Filisminda, mulata de unhas azuis, lixadas com todo esmero, cabelos de ombro a ombro escovados para o seu homem, que agora jazia deitado, com um olhar ausentado para o pneu, que Zequinha, marido de Genoveva, que tinha pele de pêssego e olhos de jabuticaba, acabara de consertar.
 

The End.

2 comentários:

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    Obrigada.
    Atenciosamente,
    Gizele.

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  2. Olá, Gizele! Tudo bem?
    Felizmente consegui resolver o problema, depois de muita briga. Eles já me enviaram os exemplares; pra você ainda não?
    Se precisar de ajuda, fale comigo.
    Obrigada pela postagem!
    Um beijo,
    Luiza Oliveira.

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