quarta-feira, 1 de junho de 2011

Afetos transgressores


Atenção! Atenção!

Últimas notícias!
monstros soturnos atacam outra vez!

Tranquem as portas!
Travessias em erupções!
Explosão de vulcões!
Cabeças cortadas!
Duras penalidades!


Corro atrás dos meus sentidos,
me entrego aos deuses...
Sofro perjúrios, sou apedrejada...


Me arrasto em ruas escuras, num silencio glacial,
imobilizada sou jogada num beco sujo, úmido...
Sou desnudada e possuída por prazeres escondidos,
me esfrego em lamas barrentas...

Entro sem roupa no templo, procuro meu manto,
escorrego e me firo nos vitrais do sagrado,
um sangue escuro escorre de minha vagina,
desfaleço aos pés dos santos e de anjos desnudados...

Um anjo gigante de asas brancas fixa seus olhos em mim...
Me amedronto.

Um coro de vozes angelicais cobrem meu escoar,
nua, na igreja solitária, assombrosa,
vejo nuvens negras cobrindo meu rosto pálido, gelado...

Ajoelho, assustada, chorosa...

Imagens fortes, endurecidas me fixam nos olhos
assombrada, me encolho nas janelas de ferro,
aprisionada me debato com asas de algodão

Fixo meu olhar em anjos gigantes,
vejo suas asas fincadas em seus corpos,
fortes, acorrentados,
no escuro do firmamento

clamo sagrados louvores,
me penduro em falsos pendores,
como pêndulo, esvazio o tempo...

Congelo minha alma e faço calar essa cantiga de ninar,
antiga e triste que não para de gritar,
sem murmúrios, sem ruídos,
há um eterno silenciar.


 The  end

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