sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Suplício de uma paixão



 A paixão é primitiva, pueril, irracional, devassadora, por isso é destrutiva, 
sem visar essa autodestruição.
É como um brincar no precipício, ou você cria asas e voa como pássaros, 
ou você escorre como lama, precipício abaixo.
É mortal sim, mas o que não é mortal?
É um alimento-veneno, com suas contradições, aberrações.
É como um gole de cachaça, depois o fígado que aguente.
É o ópio do amor.
Ah! Mas o que seria da literatura e da poesia, sem esses venenos?
Mas também existem sentimentos passivos que destroem muito mais que a paixão: 
a compaixão é um deles.

Saio do inferno de Hades e deixo de ser presa da loucura
Refloreio meus jardins e reabasteço meus potes de mel
Labirintos abrem suas frestas, exalando uma brisa com fel
Pássaros invadem minha cabana e rompem a laqueadura,
Saio da minha floresta interior, chorosa e  cheia de amargura.

Corro da deflagração descontaminada e dou rodopios flamejantes
Lampejos da claridade dão tons de esperança delirantes
Fantasio meus devaneios com a graciosidade de novos dias
Sou arremessada da escuridão e faço lindas acrobacias.

Transformo meu deserto afetivo, num patamar verdejante
Chacoalho meus quadris pra essa indecisão mirabolante
Saio dessa aridez destemida, com sofreguidão
Me sincronizo com a Paixão de Cristo e sua crucificação.

Leio o livro de Clarice Lispector, G.H., que  fala de paixão
De seres multifacetados, truncados,  vivendo na escuridão
Buscando  seus pedaços nos escombros de seus ancestrais
Esfacelados, quebrados, se arrastando como animais.
 
Ressuscito , serenizo, renasço e me parabenizo
Entre rampas e barrancos dou solapadas na  respiração
antecipo  minha liberdade dessa antiga alucinação
eliminando vestes desbotadas dessa velha e antiga paixão.

Tiro meus chinelos e piso forte na terra, com um novo eixo vertical
Subo  num  paraquedas e vejo a Terra lá de cima num tom magistral
Me sinto gigante,  formosa,  superior, até  grandiosa
Vejo balões coloridos flamejantes se esvaindo num  céu cor de rosa.
 
Cuidadosamente, desço do meu balão, na ponta do pé, como bailarina
Faço uma apresentação no palco da vida com um chão coberto de purpurina
Espremo o azedume da vida e jogo  seu  universo fosco num  cântaro sagrado
Estendendo o toldo da renovação  nesse  território delimitado.


Descasco pétalas de rosas sob espinhos e machuco minhas mãos
Me liberto sonolenta e cansada das agruras dessa paixão
Redescubro meu corpo com o coração renovado
Liberto minha alma desse  grande e pesado fardo.

Me masturbo no rio dessa floresta completamente  nua
Me dispo  dessa paixão visceral, cruel e crua
Anseio novos amores, deslizo em barrancos enlameados
Caindo do outro lado , com afetos não rotos e amores cruzados
Com a força dessa  nova paixão, visto meu vestido decotado
Vermelho, sensual me engancho em um novo ser amado.


Desfilo  como porta-bandeira com os pés descalços
sambo  na avenida   ganhando   carinhosos  abraços
com graciosidade e repleta de grandes emoções
vou deslizando meus pés para  novas direções.

The end

Nenhum comentário:

Postar um comentário