sábado, 11 de setembro de 2010

Nada

Me apaixono pelo nada e me escravizo...
Nada existe...
Me visto, me desnudo, me recomponho e não vejo nada....
Respiro
cabelos desgrenhados  roçam    meu rosto
Atravesso  o túnel da respiração e sinto meus dedos gelados percorrerem  meu corpo...

Respiro......
Corro atrás das minhas sensações e revejo minhas emoções....
Me esvazio. Me acoberto. Me protejo.....
Enxergo nebulosidades....
Vejo águas turvas
Uma  lua gigante soberba me persegue....
Ouço latidos ao longe....
Uma natureza gigantesca me acoberta de delírios e alucinações 

Minha inspiração como um raiozinho de sol emerge tímida, ansiosa ......
Ela  vai  ao encontro de  sua mãe-maior, a lua, que com sua luminosidade  infinita clareia  nuvens da escuridão que perpassam meu rosto
Anseio pétalas de orvalho  para cobrir minha respiração ofegante
Vejo seres perdidos na apatia e na solidão
Recomeço minha lição de casa....
C om minhas asas pequenas alço voos,  pulo numa árvore e me  penduro em seus galhos ...
Olho  o horizonte e sinto seu ar gélido, cheio de fermento....
Cócegas internas agilizam minhas sensações desvanecidas...

Me amparo e me resguardo.....
O infinito me cobre e fantasio a realidade....
Cubro-a  com lantejoulas e pedrinhas de rubi....
Emerjo dessa  fecundidade e  atravesso túneis escuros, conseguindo sair do outro lado da rua
Me balanço no urbano e  pego um trenzinho elétrico  me lançando lá de cima .....
Sucumbo e  deslancho  na grama verde - solitária....

O sol me cobre e  encobre meus devaneios....
Relincho as adversidades e me recomponho..
Agilizo verdades e não consigo me desvencilhar da solidão...
Ela cola-se ao meu ser,  tento descolar e uma parte do meu ser é arrancada....
Viro metade...
Percorro as avenidas  da vida com a metade do meu ser

Colho flores do campo e vejo meu desfolhar, como pétalas caídas, despedaçadas....
Como trigos no campo  germino ........  o desamparo e a desesperança...
Descalça, desnuda, viajo no túnel das desmesurações...
Desencantada encontro mendigos com vira-latas. Olho em seus olhos e me vejo, me enxergo neles........
 Escorrego, quebro a perna. Viro coruja. Me encho de coragem e me travisto de urubu..
Percorro carniças humanas e nenhuma me atrai.  Desvendo  seus   ancestrais entre mistérios e alucinações....
 Vejo fomes desenfreadas, rostos com cicatrizes, vidas esbofeteadas,  cruzadas, rechaçadas, abençoadas.  Nada é nada.
 Fantasmas da solidão, corações inquietos,  cavalgam sem parar...
Me reaproximo de mim e me assusto....carcarejo e começo a levitar.....
Dou um grito de aleluia e solto  essa mulher devota, calhorda, barulhenta, sedenta, rabugenta..

Sinalizo..
Amparo as paredes caídas e destelho meu ser...Chuvas caem, molham minha pele machucada...
Reviro meu bau interno e vejo figurinhas antigas, repetidas. Não consigo trocar, estão ultrapassadas...
Permuto  pinheiros por ervas...me acalento num doce  amanhecer.
Transfiguro a realidade e fantasio as aflições...
As correntes se rompem, os  cadarços estão esgarçados...Rompo as correntes rompidas....

Existem sentimentos demais aqui...
Busco   alguém para brincar... não encontro nada e ninguém....me amparo na  dor  e me distraio nesse  vazio.......  submersa.....
Com  a dor balançando num doce balançar.....
Entre afetos rompidos e açoites do tempo
 faço esse doce  nenem  ninar...



  The end






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