quarta-feira, 8 de setembro de 2010

As chaves da casa



Me despeço de árvores secas, sem frutos...
De frutas apodrecidas jogadas ao lixo
de amigos maledicentes
de falsos torneios de futebol
dos amores em vão.
Vou buscar graciosidade em têmporas rosadas
 de bebês solitários.
Desabotoo o botão da blusa rasgada
e deslizo no escorregador do parque infantil.
Ouço soluços ao longe.
Caminho desajeitadamente entre prantos
e luzes da ribalta.
Tento escalar montanhas 
e desfaleço com açoites do tempo,
a  neblina da madrugada me impede de enxergar.
Meu corpo está enxertado de lâmpadas queimadas.
Refaço a lição de casa e afirmo: dois mais dois,
são cinco.
Me desfaço de professores e ensinamentos antigos,
entro em pirâmides egípcias 
e ensaio peças de figuras da literatura clássica antiga.
Me apodero dos fragmentos de gênios atormentados,
sonho com Van Gogh
e decepo meu desamparo inútil.
Sou levada  Grécia pelas mãos de Zeus e Afrodite,
sou encurralada no cordão carnavalesco da alegria
e rebolo desajeitadamente.
Vou passear na antiguidade
e sou levada ao pelourinho,
entro no santuário e me extirpo de toda a punição
loucos com baba, seres sem identidade
andarilhos são arrastados em  feiras de inutilidades,
tento permutar feijão por rosários,
sou apunhalada por povos bárbaros e caio desfalecida.
Acordo em delírios,
gargalho e caio no chão.



The end

Um comentário:

  1. As chaves de casa, remete a sua propriedade fisica, memôrias e todo o simbolismo envolvido. O final está escrito: "acordo em delírios...gargalho e caio no chão...". Apenas uma atriz pode escrever assim, com essa liberdade onde vais nas mãos de Zeus e Afrodite. Ai o palco é o mundo...e a atriz principal é você Luiza...a nossa poetisa dos grandes pensamentos e das grandes cenas do cotidiano! Como todos os poemas do livro, gostei muito desse! Um grande beijo de fã!

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